Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma. Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não pense tal homem que receberá coisa alguma do Senhor; é alguém que tem mente dividida e é instável em tudo o que faz – Tg 1.2 a 8
INTRODUÇÃO:
Tiago, irmão do Senhor, nos orienta sobre a atitude correta diante de algumas situações na vida:
- Diante das provações – “Considerar como motivo de grande alegria” reconhecendo que a prova da nossa fé “produz perseverança”. E a perseverança, tendo sua ação completa produzirá em nós maturidade e integridade – v. 2 a 4.
- Diante das decisões importantes da vida – Peça sabedoria a Deus “que a todos dá livremente e de boa vontade” – v. 5.
Mas a sabedoria deve ser pedida com fé.
Porque “quem duvida” é:
- Como onda do mar, levada e agitada pelo vento – Instável e inconsistente – v. 6.
- Uma pessoa que tem mente dividida e é instável em tudo o que faz – v. 7 e 8.
O termo usado por Tiago no verso 8 é bem raro no NT:
δίψυχος – dípsychos– Aquele que tem duas mentes, duas almas, duas disposições, instável, ânimo dobre, uma pessoa indecisa que oscila entre dois objetos de desejo e apego.
O termo só é usado novamente por Tiago 4.8:
Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração.
Perguntas:
- O que significa ter duas mentes – dipsiquia?
- Por que temos dipsiquia?
- Quais são as causas da dipsiquia?
- O que fazer quando nos percebemos dipsíquicos?
Em 1.8, Tiago nos aconselha a romper com esse estado mental patológico.
Em 4.8, Tiago nos orienta a purificar nosso coração.
Se você se perceber dipsíquico, lembre-se:
Fé e pureza de coração é tudo que você precisa para deixar ser sabotador de si mesmo.
O que auto-sabotagem tem a ver com o assunto da dipsiquia?
Resposta: Os dipsíquicossão auto-sabotadores.
Sabotagem significa toda a ação que visa prejudicar o trabalho de alguém. Sua origem vem da França, onde a palavra ¨sabot¨ quer dizer tamanco e antigamente, os operários trabalhavam usando tamancos. Nos protestos contra o patrão, os funcionários jogavam os tamancos sobre as máquinas para danificá-las, daí o termo ficou conhecido com o seu significado atual. Fonte: https://www.dicionarioinformal.com.br/sabotagem/
O ato de sabotar a si mesmo é algo que caracteriza a vida das pessoas dipsíquicas. Elas constantemente estão prejudicando a si mesmas. A menos que se percebam dipsíquicase intencionalmente rompam esse ciclo vicioso continuarão prejudicando-se por toda a vida.
Um cristão pode ser dipsíquico? Sim.
A vitória sobre a dipsiquiavem com a maturidade cristã e sabedoria.
Jean Jacques Rousseau afirmou que “o homem é o lobo do próprio homem”. Com isso ele queria dizer que o homem é seu próprio predador. Nesse sentido ele falava do coletivo.
Mas, por meio da auto-sabotagem nós nos tornamos nossos próprios lobos.
O que causa a dipsiquia?
- INDEFINIÇÕES
Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o mal está junto a mim – Rm 7.15 a 21
Paulo relata um sentimento angustioso que nos persegue quando o assunto é pecado ou santidade. Mas esta situação angustiante se estende a todos os âmbitos da vida. Invariavelmente nos vemos numa encruzilhada.
- Que caminho devemos tomar?
- Direita ou esquerda?
- O que é certo fazer?
Paulo afirma que há impulsos internos que são decisivos para levar-nos na direção certa ou errada. Esses impulsos são nossas afeições. As mais profundas inclinações de nossa alma.
Se nossas afeições não estão clara e definidas iremos sempre demonstrar instabilidade em nossas decisões.
O que realmente queremos?
Jonathan Edwards afirmou: “Aquilo que é dito ser desejado, porém, não buscado, não foi de fato desejado”.
- Alguém diz que deseja evitar refrigerante, mas não toma nenhuma atitude em relação ao consumo diário de refrigerantes, na verdade nunca quis abandonar o consumo de refrigerantes.
- Alguém afirma que irá acordar todos os dias mais cedo para ler a Bíblia e dedicar um tempo para sua devoção diária, mas não colocou o despertador para acordá-lo mais cedo e foi para a cama tarde da noite…
- Alguém afirma que deseja desvencilhar-se de um determinado vício, mas não deixa de ter contato com o referido vício…
A pessoa sabe que não deve fazer o que está fazendo ainda assim faz.
Por que?
Há algo em sua alma que precisa ser tratado.
Afinal o que queremos mesmo?
Suas afeições estão propensas ao que sua razão lhe apresenta como digno de ser evitado. Ao invés de evitar o que deve ser evitar a pessoa evita o que não deveria ser evitado.
- AMORES MAL DIRECIONADOS
Tiago pergunta e afirma:
De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres. Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus – Tg 4.1 a 4
As lutas que há entre nós e em nós são decorrentes das:
- Paixões que guerreiam dentro de nós – v.1
- Cobiças (epithyméō) – v.2
- Invejas (zēlóō)– v.2
- Hedonismo (hēdonḗ)– verso 3
E tudo isso se dá porque temos optado por sermos amigos do mundo e não de Deus – v.4
O que significa ser amigo do mundo?
A amizade é uma questão de afeição. Se nos afeiçoamos ao mundo e ao que o mundo nos oferece, nós nos tornamos amigos do mundo e inimigos de Deus.
João nos exorta:
Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre – 1Jo 2.15 a 17
Precisamos definir, de uma vez por todas, se amaremos a Deus ou ao mundo. Não é possível amar a Deus e ao mundo.
Amar a Deus significa entregar a ele as nossas afeições que serão o crivo para regular nossas ambições mais íntimas.
- A cobiça da carne é o desejo descontrolado e dominante de fazer o que Deus não quer que façamos.
- A cobiça dos olhos é o desejo desenfreado e dominante de ter o que Deus não quer que tenhamos.
- A soberba da vida (ARA) “ostentação dos bens” é o desejo desenfreado e dominante de ser o que Deus não quer que sejamos.
Amar a Deus e fazer sua vontade são realidades implicadas uma na outra:
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele – Jo 14.21
- CONFUSÃO ENTRE QUERER, PODER E DEVER
Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não deixarei que nada domine – 1Co 6.12
Todos nós temos quereres. Somos seres que desejam e pensam, nesta ordem. Há quem deseje sem pensar, mas não é possível pensar sem desejar. Até pensar é um desejo.
— Não quero pensar nisto agora…
Podemos querer qualquer coisa, até mesmo coisas impossíveis:
Mudar o passado.
Nos teletransportar.
Voar sem nenhum aparato adequado.
- Mas, o que desejamos, nós podemos desejar?
- A que preço?
- Se não podemos realizar o que desejamos porque deveríamos desejar?
- Quem nos obriga a desejar o que sabemos que não devemos desejar?
- Se o que desejamos não convém ser desejado, porque devemos continuar desejando o que temos desejado?
- Não deveríamos simplesmente deixar de desejar o que não devemos desejar?
- Por que não fazemos exatamente isso?
Resposta:
Porque amamos desejar o que não deveríamos desejar.
Amamos amar o que a razão e as Escrituras dizem que não deveríamos amar.
Devemos amar a Deus e ao próximo:
Respondeu Jesus: ” ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” – Mt 22.37 a 40
O que podemos fazer para vencer a dipsiquia?
- CONTENTAMENTO E VIDA SIMPLES
Alegro-me grandemente no Senhor, porque finalmente vocês renovaram o seu interesse por mim. De fato, vocês já se interessavam, mas não tinham oportunidade para demonstrá-lo. Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece – Fp 4.10 a 13
Uma solução para vencer a dipsiquiae a auto-sabotagem decorrente dela é adotar uma disposição mental chamada contentamento e um estilo de vida simples.
Paulo afirmou que isto é resultado de um aprendizado: “aprendi a adaptar-me”. E por haver aprendido ele pode dizer: “eu sei”, “eu aprendi o segredo”.
O segredo é contentar-se com o que Deus nos dá e não ficar cobiçando o que ele não nos deu.
De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro, pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos – 1Tm 6.6 a 10
Na busca por uma vida recheada de sofisticações e complexidade nos leva a tomar decisões que nos enreda num redemoinho imenso. Uma vida repleta de contentamento e simplicidade é muito mais prazerosa.
Muitas decisões na vida poderiam ser simplificadas se tão somente desenvolvermos uma disposição que nos incline a uma vida marcada pelo hábito do contentamento e simplicidade.
CONCLUSÃO:
Se nos percebemos dipsíquicos(instáveis), sabotando-nos constantemente devemos ouvir os conselhos de Tiago:
- Peçam sabedoria a Deus.
- Peçam com fé, em nada duvidando.
- Purifiquem seus corações.
Tendo recebido sabedoria de Deus iremos definir nossos desejos, redirecionar nosso amor e desejar apenas o que devemos desejar adotando para nós uma disposição de contentamento e simplicidade.