Recomeços

Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! – 2Co 5.17

INTRODUÇÃO:

O universo evoca recomeços:

  • Dia e noite
  • Invernos e verões
  • Solstício e equinócio

As estações, os tempos são constantes retomadas.

Há tempo de fazer e desfazer o que foi feito:

Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz – Ec 3.1 a 8

As Escrituras nos ensinam que Deus é mestre em recomeços. Gênesis nos conta sobre o princípio, mas também nos fala da Queda da humanidade e dos recomeços por meio do Dilúvio e da convocação de Abraão. Há inúmeros incidentes narrados que nos falam de recomeços pessoais ou nacionais na história do povo de Deus.

Um equívoco que cometemos é achar que Deus somente concede uma nova oportunidade aos que a merecem. Mas, o que vemos nas Escrituras nos ensina que Deus concede novas oportunidades tanto a inocentes quanto a pecadores, tanto a pessoas que foram vítimas como a pessoas que foram causadoras de suas próprias desgraças.

Vejamos alguns exemplos.

  1. O INCIDENTE EM CADES – ARÃO

Houve uma rebelião no deserto de Cades:

Corá, filho de Isar, neto de Coate, bisneto de Levi, reuniu Datã e Abirão, filhos de Eliabe, e Om, filho de Pelete, todos da tribo de Rúben, e  eles se insurgiram contra Moisés. Com eles estavam duzentos e cinqüenta israelitas, líderes bem conhecidos na comunidade e que haviam sido nomeados membros do concílio. Eles se ajuntaram contra Moisés e Arão, e lhes disseram: “Basta! A assembleia toda é santa, cada um deles é santo, e o Senhor está no meio deles. Então, por que vocês se colocam acima da assembléia do Senhor?” – Nm 16.1 a 3

Corá, levita da descendência de Coate, revoltou-se contra a nomeação de Arão para ser sumo sacerdote. Ele ambicionava o cargo. Aliou-se aos filhos de Rubem que questionavam a liderança de Moisés e promoveram um motim.

Moisés levou o caso a Deus que propôs uma solução:

Quando ouviu isso, Moisés prostrou-se, rosto em terra. Depois disse a Corá e a todos os seus seguidores: “Pela manhã o Senhor mostrará quem lhe pertence e fará aproximar-se dele aquele que é santo, o homem a quem ele escolher. Você, Corá, e todos os seus seguidores deverão fazer o seguinte: peguem incensários e amanhã coloquem neles fogo e incenso perante o Senhor. Quem o Senhor escolher será o homem consagrado. Basta, levitas! ” – Versos 4 a 7

No dia seguinte Deus deixou bem claro quem ele havia escolhido:

Assim, cada um deles pegou o seu incensário, acendeu o incenso, e se colocou com Moisés e com Arão à entrada da Tenda do Encontro. Quando Corá reuniu todos os seus seguidores em oposição a eles à entrada da Tenda do Encontro, a glória do Senhor apareceu a toda a comunidade. […] Então veio fogo da parte do Senhor e consumiu os duzentos e cinquenta homens que ofereciam incenso – Versos 18, 19 e 35

Apesar disso:

No dia seguinte toda a comunidade de Israel começou a queixar-se contra Moisés e Arão, dizendo: “Vocês mataram o povo do Senhor”. Quando, porém, a comunidade se ajuntou contra Moisés e contra Arão, e eles se voltaram para a Tenda do Encontro, repentinamente a nuvem a cobriu e a glória do Senhor apareceu – Versos 41 e 42

Para cessar toda contenda e dúvidas Deus propôs uma solução definitiva:

O Senhor disse a Moisés: “Peça aos israelitas que tragam doze varas, uma de cada líder das tribos. Escreva o nome de cada líder em sua vara. Na vara de Levi escreva o nome de Arão, pois é preciso que haja uma vara para cada chefe das tribos. Deposite-as na Tenda do Encontro, em frente da arca das tábuas da aliança, onde eu me encontro com vocês. A vara daquele que eu escolher florescerá, e eu me livrarei dessa constante queixa dos israelitas contra vocês”. Assim Moisés falou aos israelitas, e seus líderes deram-lhe doze varas, uma de cada líder das tribos, e a vara de Arão estava entre elas. Moisés depositou as varas perante o Senhor na tenda que guarda as tábuas da aliança. No dia seguinte Moisés entrou na tenda e viu que a vara de Arão, que representava a tribo de Levi, tinha brotado, produzindo botões e flores, além de amêndoas maduras. Então Moisés retirou todas as varas da presença do Senhor e as levou a todos os israelitas. Eles viram as varas, e cada líder pegou a sua. O Senhor disse a Moisés: “Ponha de volta a vara de Arão em frente da arca das tábuas da aliança, para ser guardada como uma advertência para os rebeldes. Isso porá fim à queixa deles contra mim, para que não morram”. Moisés fez conforme o Senhor lhe havia ordenado – Nm 17.1 a 11

Arão tinha sido escolhido por Deus para ser sumo sacerdote, isso era algo certo. Mas Corá e seus seguidores colocaram em dúvida a escolha de Arão. Arão se viu numa situação angustiosa.

Ele amanheceu sumo sacerdote, mas no dia seguinte poderia voltar a ser somente “o irmão mais velho de Moisés”. Ele teve sua vida e ministério colocado em cheque. E agora, o que fazer?

A solução de Deus era definitiva, mas ao mesmo tempo o colocava numa posição de absoluta incapacidade, ele precisava confiar unicamente na intervenção de Deus.

O florescimento da amendoeira é uma figura da ressurreição.

Ressurreição é sinônimo de recomeço.

  1. A SALVAÇÃO VEM DO SENHOR – JONAS

O profeta Jonas recebeu uma convocação divina:

A palavra do Senhor veio a Jonas, filho de Amitai com esta ordem:  “Vá depressa à grande cidade de Nínive e pregue contra ela, porque a sua maldade subiu até a minha presença” – Jn 1.1 e 2

Mas Jonas:

…fugiu da presença do Senhor, dirigindo-se para Társis. Desceu à cidade de Jope, onde encontrou um navio que se destinava àquele porto. Depois de pagar a passagem, embarcou para Társis, para fugir do Senhor – Verso 3

Deus não deixou por menos:

O Senhor, porém, fez soprar um forte vento sobre o mar, e caiu uma tempestade tão violenta que o barco ameaçava arrebentar-se. Todos os marinheiros ficaram com medo e cada um clamava ao seu próprio deus. E atiraram as cargas ao mar para tornar mais leve o navio. Enquanto isso, Jonas, que tinha descido para o porão e se deitado, dormia profundamente. O capitão dirigiu-se a ele e disse: Como você pode ficar aí dormindo? Levante-se e clame ao seu deus! Talvez ele tenha piedade de nós e não morramos – Versos 4 e 5

No final das contas Jonas foi parar no ventre de um grande peixe:

Então o Senhor fez com que um grande peixe engolisse Jonas, e ele ficou dentro do peixe três dias e três noites – Verso 17

E do ventre do grande peixe Jonas orou:

Lá de dentro do peixe, Jonas orou ao Senhor, ao seu Deus. Ele disse: “Em meu desespero clamei ao Senhor, e ele me respondeu. Do ventre da morte gritei por socorro, e ouviste o meu clamor. Jogaste-me nas profundezas, no coração dos mares; correntezas formavam turbilhão ao meu redor; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim. Eu disse: Fui expulso da tua presença; contudo, olharei de novo para o teu santo templo. As águas agitadas me envolveram, o abismo me cercou, as algas marinhas se enrolaram em minha cabeça. Afundei até os fundamentos dos montes; à terra cujas trancas estavam me aprisionando para sempre. Mas tu trouxeste a minha vida de volta da cova, ó Senhor meu Deus! “Quando a minha vida já se apagava, eu me lembrei de ti, Senhor, e a minha oração subiu a ti, ao teu santo templo. “Aqueles que acreditam em ídolos inúteis desprezam a misericórdia. Mas eu, com um cântico de gratidão, oferecerei sacrifício a ti. O que eu prometi cumprirei totalmente. A salvação vem do Senhor” – Jn 2.1 a 9

A oração de Jonas está repleta de desespero e esperança. Esta é a oração mais bíblica da Bíblia. Jonas cita pelo menos 18 salmos em sua curta oração. A oração de Jonas sugere que ele era um profundo conhecedor dos cânticos escritos por Davi e os filhos de Levi. Jonas pede uma segunda chance. Ele pede que Deus o salve e faz promessas. Ele confessa e pede que Deus se lembre dele mais uma vez. Diferente de Arão, Jonas era o culpado de sua própria desgraça. Ele havia desobedecido à ordem divina. Deus poderia ignorar sua oração. Se Deus fizesse isso estaria no seu direito. Mas Deus ouviu o clamor de Jonas e deu a ele uma nova oportunidade:

E o Senhor deu ordens ao peixe, e ele vomitou Jonas em terra firme – Verso 10

  • DO GETSEMANI AO CALVÁRIO – JESUS

Então Jesus foi com seus discípulos para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: “Sentem-se aqui enquanto vou ali orar”.  Levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes então: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo”. Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres” – Mt 26.36 a 39

Jesus sabia que iria morrer:

Desde aquele momento Jesus começou a explicar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse para Jerusalém e sofresse muitas coisas nas mãos dos líderes religiosos, dos chefes dos sacerdotes e dos mestres da lei, e fosse morto e ressuscitasse no terceiro dia – Mt 16.21

Ele conhecia as profecias que diziam que o Messias morreria no lugar do povo.

Ele foi oprimido e afligido, contudo não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado para o matadouro, e como uma ovelha que diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a sua boca. Com julgamento opressivo ele foi levado. E quem pode falar dos seus descendentes? Pois ele foi eliminado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo ele foi golpeado. Foi-lhe dado um túmulo com os ímpios, e com os ricos em sua morte, embora não tivesse cometido qualquer violência nem houvesse qualquer mentira em sua boca. Contudo foi da vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo sofrer, e, embora o Senhor faça da vida dele uma oferta pela culpa, ele verá sua prole e prolongará seus dias, e a vontade do Senhor prosperará em sua mão – Is 53.7 a 10

Mas uma coisa é saber, outra coisa é vivenciar isso. A proximidade da morte provocou uma reação que Jesus chamou de “tristeza mortal”. Tal sentimento foi tão forte que ele chegou a verter grossas gotas de sangue:

Estando angustiado, ele orou ainda mais intensamente; e o seu suor era como gotas de sangue que caíam no chão – Lc 22.44

Jesus sabia que sua vida ia ser ceifada de forma injusta e cruel. A morte de cruz era a modalidade mais dolorosa que os soldados romanos aplicavam aos que representavam perigo ao império. Jesus estava ciente dos horrores que o aguardavam.

Jesus se submeteu à vontade de Deus. Ele se entregou a Deus:

Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos. “Ele não cometeu pecado algum, e nenhum engano foi encontrado em sua boca”. Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça. Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados – 1Pe 2.21 a 24

… quando sofreu, não ameaçou para se vingar; deixou seu caso nas mãos de Deus, que sempre julga com justiça – Verso 23 (BÍBLIA VIVA)

Jesus, assim como Arão, era inocente e Deus viu seu sofrimento.

… Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus – Hb 12.2b

Jesus sabia que Deus o ressuscitaria no terceiro dia:

Sempre tenho o Senhor diante de mim. Com ele à minha direita, não serei abalado. Por isso o meu coração se alegra e no íntimo exulto; mesmo o meu corpo repousará tranquilo, porque tu não me abandonarás no sepulcro, nem permitirás que o teu santo sofra decomposição. Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita – Sl 16.8 a 11

E foi isso mesmo que aconteceu. Pedro afirmou com ousadia:

Vocês negaram publicamente o Santo e Justo e pediram que lhes fosse libertado um assassino. Vocês mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. E nós somos testemunhas disso – At 3.14 e 15

A ressurreição de Jesus é a realidade da qual a amendoeira de Arão e a restauração de Jonas são apenas figuras:

Ele respondeu: “Uma geração perversa e adúltera pede um sinal miraculoso! Mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal do profeta Jonas. Pois assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre de um grande peixe, assim o Filho do homem ficará três dias e três noites no coração da terra – Mt 12.39 e 40

A ressurreição de Jesus Cristo é o recomeço de todos os recomeços.

  • Porque Jesus ressuscitou nós podemos nascer de novo e nos tornarmos assim nova criatura – 2Co 5.17
  • Porque Jesus ressuscitou, nós também ressuscitaremos – Rm 8.11
  • Porque Jesus ressuscitou, nós aguardamos novos céus e nova terra – 2Pe 3.13
  • Porque Jesus ressuscitou Deus fará tudo novo de novo – Ap 21.1
  1. DA TERRA DISTANTE À CASA DO PAI – FILHO PRÓDIGO

Jesus continuou: “Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao seu pai: ‘Pai, quero a minha parte da herança’. Assim, ele repartiu sua propriedade entre eles. “Não muito tempo depois, o filho mais novo reuniu tudo o que tinha, e foi para uma região distante; e lá desperdiçou os seus bens vivendo irresponsavelmente. Depois de ter gasto tudo, houve uma grande fome em toda aquela região, e ele começou a passar necessidade. Por isso foi empregar-se com um dos cidadãos daquela região, que o mandou para o seu campo a fim de cuidar de porcos. Ele desejava encher o estômago com as vagens de alfarrobeira que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada. “Caindo em si, ele disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm comida de sobra, e eu aqui, morrendo de fome! Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados’.A seguir, levantou-se e foi para seu pai. “Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou. “O filho lhe disse: ‘Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho’. “Mas o pai disse aos seus servos: ‘Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Coloquem um anel em seu dedo e calçados em seus pés. Tragam o novilho gordo e matem-no. Vamos fazer uma festa e comemorar. Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado’. E começaram a festejar – Lc 15.11 a 24

Diferente de Jesus que deixou a casa do Pai para vir à terra distante para “buscar e salvar o que estava perdido – Lc 19.10 – o filho pródigo deixou a casa paterna para se perder na terra distante. A liberdade que ele buscava ele perdeu. Sendo filho na casa paterna ele se tornou um pária na terra distante.

Mas ele caiu em si e se arrependeu. Ele se reconheceu pecador e causador de seus males. Rompeu com a terra distante e voltou aos braços amorosos de seu pai. E seu pai lhe deu uma nova oportunidade. Tendo estado morte agora estava vivo novamente.

Figuradamente o filho pródigo experimentou uma ressurreição.

Pois este meu filho estava morto e voltou à vida – Verso 24a

CONCLUSÃO:

Deus está sempre disposto a conceder-nos uma nova oportunidade, novos recomeços.

O modus operandide Deus é a ressurreição.

  • A amendoeira floresce
  • Jonas volta à superfície
  • Jesus ressuscita dos mortos
  • O filho pródigo volta à casa paterna
  • Nós nascemos de novo e nos tornamos nova criatura

Deus ama fazer novas todas as coisas.

Deus não concede novas oportunidades apenas aos que são inocentes e justos.

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