A tentação de todos nós e a solução de Cristo

Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. O tentador aproximou-se dele e disse: “Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães”. Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’”. Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse: “Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo. Pois está escrito: ‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra’”. Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus’”. Depois, o diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe disse: “Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar”. Jesus lhe disse: “Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’”. Então o diabo o deixou, e anjos vieram e o serviram – Mt 4.1 a 11

INTRODUÇÃO:

Antes de iniciar a exposição do texto convém esclarecer alguns pontos:

Todos são tentados e Deus a ninguém tenta:

Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: “Estou sendo tentado por Deus”. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte – Tg 1.13 a 15

Ninguém é tentado acima de suas capacidades:

Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele lhes providenciará um escape, para que o possam suportar – 1Co 10.13

As tentações de Cristo (as relatadas nos evangelhos – Mt 4 e Lc 4) são emblemáticas, ou seja, elas representam, num grau máximo as tentações de todos nós.

Ao vencer as tentações no deserto Jesus nos ofereceu a solução para vencermos as nossas tentações.

 

  1. A PRIMEIRA TENTAÇÃO – TER O QUE DEUS NÃO QUER QUE TENHAMOS

O tentador aproximou-se dele e disse: “Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães” – verso 3

O desejo de ter é natural. Todos nós queremos ter algo, possuir algo que possa dizer: é meu. Não há nada de errado em ter coisas. Nosso desejo de possuir é neutro em si.

A tentação de ter é caracterizada pelo ter excessivo. A ganância, a avareza, o desejo desmedido em possuir, ostentar e “glamourizar” a vida é o pecado a ser evitado.

Constantemente somos tentados a ter o que achamos que precisamos, mas que não ousamos perguntar a Deus se ele quer que tenhamos porque sabemos que a resposta será negativa.

Ao ter em excesso somos dominados pelo que julgamos possuir.

O jovem rico é um exemplo:

Jesus respondeu: “Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me”. Ouvindo isso, o jovem afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas – Mt 19.21 e 22

Judas é outro exemplo:

Quando Judas, que o havia traído, viu que Jesus fora condenado, foi tomado de remorso e devolveu aos chefes dos sacerdotes e aos líderes religiosos as trinta moedas de prata. E disse: “Pequei, pois traí sangue inocente”. E eles retrucaram: “Que nos importa? A responsabilidade é sua”. Então Judas jogou o dinheiro dentro do templo, saindo, foi e enforcou-se – Mt 27.3 a 5

A ambição de ambos os impediu de seguir a Jesus. Tanto um quanto o outro eram possuídos por aquilo que julgavam possuir.

 

2. A SEGUNDA TENTAÇÃO – FAZER O QUE DEUS NÃO QUER QUE FAÇAMOS

Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse: “Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo. Pois está escrito: ‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra’” – versos 5 e 6

Constantemente estamos fazendo coisas. O erro está em fazer o que não se deve fazer. Gostamos de viver perigosamente e colocamos em risco nossa vida para fazer algo. Acreditamos que a verdadeira felicidade consiste em fazer algo agradável, desafiador, perigoso, que representa algum risco a nós e a quem está ao nosso redor.

Os puritanos se perguntavam:

  1. Posso orar antes de fazer o que pretendo fazer?
  2. Depois de haver feito o que pretendo fazer, posso agradecer por haver feito?

Se a resposta a estas perguntas fosse não eles não faziam.

Por que fazemos o que fazemos?

Filhos de Caim:

O Senhor disse a Caim: “Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto? Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo”. Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: “Vamos para o campo”. Quando estavam lá, Caim atacou seu irmão Abel e o matou – Gn 4.6 a 8

Esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. Não sejamos como Caim, que pertencia ao Maligno e matou seu irmão. E por que o matou? Porque suas obras eram más e as de seu irmão eram justas – 1Jo 3.11 e 12

Caim, acusado por sua consciência, não quis ouvir nem a voz de Deus. Um erro o conduziu a outro porque se deixou ser levado pelo sentimento de inveja e indignação.

O que nos move a fazer o que fazemos?

Filhos de Nabucodonozor:

Doze meses depois, quando o rei estava andando no terraço do palácio real da Babilônia, disse: “Acaso não é esta a grande Babilônia que eu construí como capital do meu reino, com o meu enorme poder e para a glória da minha majestade?” As palavras ainda estavam nos seus lábios quando veio do céu uma voz que disse: “É isto que está decretado quanto a você, rei Nabucodonosor: Sua autoridade real lhe foi tirada. Você será expulso do meio dos homens, viverá com os animais selvagens e comerá capim como os bois. Passarão sete tempos até que admita que o Altíssimo domina sobre os reinos dos homens e os dá a quem quer” – Dn 4.29 a 32

Nabucodonozor, apesar da advertência de Deus, interpretada por Daniel, (versos 4 a 27) ele ainda se deixou levar pela ilusão de que seus feitos seriam eternizados. Ele se vangloriou de tudo o que fizera sem perceber que o tempo iria arruinar tudo e seus feitos seriam esquecidos em pouco tempo.

 

3. A TERCEIRA TENTAÇÃO – SER O QUE DEUS NÃO QUER QUE SEJAMOS

Depois, o diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe disse: “Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar” – versos 8 e 9

Todos nós desejamos ser alguém, ter um nome, deixar um legado à posteridade. Vivemos em função dessa ambição sutil de perpetuar nosso nome.

Desprezei todas as coisas pelas quais eu tanto me esforçara debaixo do sol, pois terei que deixá-las para aquele que me suceder. E quem pode dizer se ele será sábio ou tolo? Contudo, terá domínio sobre tudo o que realizei com o meu trabalho e com a minha sabedoria debaixo do sol. Isso também não faz sentido. Cheguei ao ponto de me desesperar por causa de todo o trabalho em que tanto me esforcei debaixo do sol. Pois um homem pode realizar o seu trabalho com sabedoria, conhecimento e habilidade, mas terá que deixar tudo o que possui como herança para alguém que não se esforçou por aquilo. Isso também é um absurdo e uma grande injustiça. Que proveito tem um homem de todo o esforço e de toda a ansiedade com que trabalha debaixo do sol? – Ec 2.18 a 22

A tentação está em fazer com que nosso nome seja lembrado a qualquer custo.

A síndrome de Shutruk-Nahunte (1158 a.C):

“Eu sou Shutruk-Nahunte” rei de Anshand e Susa soberano da terra de Elam. “Eu distrui Sippar e capturei a estela de Nirah-Sin e a levei de volta a Elam onde a plantei como uma oferenda ao meu deus”.

“Por que grande ambição e conquista sem contribuição não têm significado” – Clube do Imperador

Ser a todo custo pode ser nossa ruína. Pilatos queria ser amigo de César:

Daí em diante Pilatos procurou libertar Jesus, mas os judeus gritavam: “Se deixares esse homem livre, não és amigo de César. Quem se diz rei opõe-se a César”. Ao ouvir isso, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se na cadeira de juiz, num lugar conhecido como Pavimento de Pedra (que em aramaico é Gábata) […] Finalmente Pilatos o entregou a eles para ser crucificado. Então os soldados encarregaram-se de Jesus – Jo 19.12 a 16

Ser amigo de César era um statussocial elevado. Pilatos já havia cometido erros no passado e sua “amizade” com César estava por um fio. Para não arruinar-se em definitivo ele cedeu aos apelos do povo e condenou Jesus à morte mesmo depois de já haver dito que ele era inocente.

A solução de Jesus é um eco da sabedoria antiga:

Quem está satisfeito despreza o mel, mas para quem tem fome até o amargo é doce – Pv 27.7

 

  1. A PRIMEIRA SOLUÇÃO DE CRISTO – CONTENTAMENTO COM A PROVISÃO DIVINA

O tentador aproximou-se dele e disse: “Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães”. Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’” – versos 3 e 4

Jesus recusou a proposta de Satanás porque ele estava satisfeito com a provisão de Deus. Ele sabia receber com gratidão o que Deus lhe dava e aceitar com resignação o que Deus não lhe dava.

No intuito de ter em excesso nós nos ressentimos com Deus quando ele não nos dá algo que queremos, desejamos e julgamos merecer.

Jesus tinha uma mentalidade tranquila em relação a isso:

  1. Se Deus me der algo eu recebo com gratidão
  2. Se Deus me negar algo eu aceito com resignação
  3. Se Deus não me deu é porque eu não preciso

Quando adotamos essa postura ficamos imunes à tentação de ter.

O exílio de Basílio, bispo de Cesareia:

Os conselheiros do imperador Valente lhe diziam, que se Basílio cedesse, os arianos venceriam de uma vez por todas. Valente mandou para Cesareia o prefeito Modesto, que era conhecido por sua crueldade na perseguição dos ortodoxos. Modesto era muito arrogante e chamou a si Basílio. No começo tentando convencê-lo a entrar em entendimento com os bispos arianos, prometendo-lhe muitos benefícios; depois, percebendo a sua firmeza, começou a ameaçar-lhe com o sequestro de seus bens, o exílio e até com a morte. Basílio lhe respondeu: “Não tenho medo do exílio, pois toda a terra pertence a Deus; é impossível sequestrar os bens daquele, que nada possui; a morte seria um grande favor para mim pois ela me unirá ao Cristo, por Quem eu vivo e trabalho aqui na terra.”

Quando estamos satisfeitos com o que Deus nos dá deixamos de buscar o que ele não nos deu.

 

  1. A SEGUNDA SOLUÇÃO DE CRISTO – CONTENTAMENTO COM A VONTADE DE DEUS

Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse: “Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo. Pois está escrito: ‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra’”. Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus’” – versos 5 a 7

Satanás propôs que Jesus fizesse um espetáculo para assim levar seus patrícios a crer nele. Toda e qualquer sugestão dada por Satanás visava tirar Jesus do caminho da cruz.

Pedro, sem saber foi um instrumento dele:

Desde aquele momento Jesus começou a explicar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse para Jerusalém e sofresse muitas coisas nas mãos dos líderes religiosos, dos chefes dos sacerdotes e dos mestres da lei, e fosse morto e ressuscitasse no terceiro dia. Então Pedro, chamando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: “Nunca, Senhor! Isso nunca te acontecerá!” Jesus virou-se e disse a Pedro: “Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens” – Mt 16.21 a 23

A vontade de Deus para Jesus era conhecida por ele. Mesmo sabendo que a vontade de Deus para ele incluía a cruz, Jesus não cedeu a Satanás. Ele aceitou a vontade de Deus e não quis contorná-la.

  1. Sabemos qual é a vontade de Deus para nós?
  2. Aceitamos tranquilamente a vontade de Deus?
  3. Temos nos deixado levar pela tentação de contornar a vontade de Deus?

Saber, aceitar e praticar a vontade de Deus nos tornam imunes às tentações de Satanás.

 

  1. A TERCEIRA SOLUÇÃO – CONTENTAMENTO COM A PESSOA DE DEUS

Depois, o diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe disse: “Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar”. Jesus lhe disse: “Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’” – versos 8 a 10

Satanás quis se candidatar a ser “deus” para Jesus. Jesus recusou a proposta dele. Ao pedir adoração Satanás quis encontrar em Jesus algum indício de descontentamento com a pessoa de Deus.

Quando Satanás não consegue nos convencer a tê-lo como Deus ele nos propõe outra alternativa: nós mesmos. Todos nós somos tentados a fazer de nós deuses para nós mesmos.

Filhos do rei da Babilônia:

Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que derrubava as nações! Você que dizia no seu coração: “Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembléia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo”.Mas às profundezas do Sheol você será levado, irá ao fundo do abismo! – Is 14.12 a 15

Filhos de Herodes:

Ele estava cheio de ira contra o povo de Tiro e Sidom; contudo, eles haviam se reunido e procuravam ter uma audiência com ele. Tendo conseguido o apoio de Blasto, homem de confiança do rei, pediram paz, porque dependiam das terras do rei para obter alimento. No dia marcado, Herodes, vestindo seus trajes reais, sentou-se em seu trono e fez um discurso ao povo. Eles começaram a gritar: “É voz de deus, e não de homem”. Visto que Herodes não glorificou a Deus, imediatamente um anjo do Senhor o feriu; e ele morreu comido por vermes – At 12.20 a 23

Herodes teve uma falsa apoteose. Ele se orgulhou julgando-se deus e morreu de forma abjeta. Jesus, sendo Deus não se apegou a isso e se esvaziou de suas prerrogativas divinas para identificar-se conosco a fim de salvar-nos. Quem se faz deus a si mesmo caminha no sentido contrário ao de Jesus.

Deus é suficiente para nós. Não precisamos de outro Deus a não ser o nosso Deus.

 

CONCLUSÃO:

  • Somos tentados a ter o que Deus não quer que tenhamos.
  • Somos tentados a fazer o que Deus não quer que façamos.
  • Somos tentados a ser o que Deus não quer que sejamos.

A solução de Jesus são simples:

  1. Esteja feliz com a provisão de Deus.
  2. Esteja feliz com a vontade de Deus.
  3. Esteja feliz com quem Deus é.

Que Deus nos ajude.

Amém

 

 

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