Impedimentos à comunhão cristã

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz – Ef 4.1 a 3

Portanto, se há alguma exortação em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão do Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa;  nada façais por contenda ou por vanglória, mas com humildade cada um considere os outros superiores a si mesmo; não olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros. Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus – Fp 2.1 a 5

 

INTRODUÇÃO:

No último sermão foi dito que:

  1. A NOSSA COMUNHÃO É COM O PAI, COM O FILHO, UNS COM OS OUTROS POR MEIO DO ESPÍRITO SANTO
  2. NOSSA COMUNHÃO É UM REFLEXO DA COMUNHÃO QUE HÁ ENTRE O PAI, O FILHO E O ESPÍRITO SANTO
  • NOSSA COMUNHÃO SE TORNA VISÍVEL NA CONVIVÊNCIA HARMONIOSA (TANTO QUANTO POSSÍVEL)

O grande impedimento à comunhão cristã é o pecado em suas várias formas e manifestações. O pecado tanto impede a comunhão verticalizada – entre nós e Deus – como também a comunhão horizontalizada – a comunhão fraternal.

 

  • IMPEDIMENTOS EVIDENTES

Os impedimentos evidentes são apresentados por Paulo em sua Carta aos Filipenses. O contexto do texto indica que esses pecados, tal como uma bactéria letal é capaz de causar a morte da comunhão cristã numa determinada comunidade.

Portanto, se há alguma exortação em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão do Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa;  nada façais por contenda ou por vanglória, mas com humildade cada um considere os outros superiores a si mesmo; não olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros. Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus – Fp 2.1 a 5 (editado)

    • Partidarismos:

O substantivo grego, no caso acusativo e gênero feminino, eritheian significa “egoísmo”, “ambição egoísta”. A palavra é relacionada a um substantivo que significava originalmente, “o dia de um trabalhador” e era usada especialmente para o corte e amarração do trigo ou acerca dos que faziam o trabalho. Mais tarde, veio a denotar uma perseguição de trabalho ou cargo político por meios desonestos. Então veio a significar “disputadores de posições” referindo-se às brigas a fim de conseguir espaço e poder. Por fim, veio a significar “ambição egoísta”, “ambição que não tem nenhuma noção de serviço e cujos únicos objetivos são o lucro e o poder”. (RIENECKER)

    • Vanglória

Este substantivo grego, no caso acusativo e gênero feminino, kenodoxian ocorre apenas aqui neste texto e em nenhum outro lugar do NT. O adjetivo kenodoxos ocorre em Gl 5.26 e significa “desejoso de louvor”, “orgulhoso”, “jactancioso”, refere-se ao homem que adquire uma reputação sem fundamento. O substantivo feminino kenodoxia aponta para o sentido de “orgulho”, “desejo de louvor”, “vaidade”, “ilusão”, expressa “o desejo vão pela honra”, “a fútil sede pela glória”.

O mesmo sentido é conhecido no uso secular do termo. Para os gregos a fama e a glória estavam entre os valores mais importantes da vida. Os rabinos também tinham em alta estima a honra do homem. Foi Jesus quem censurou a piedade que busca nos homens a sua honra – Mt 6:2 – e declarou que tal atitude é incompatível com a fé – Jo 5.44. Paulo, seguindo o exemplo de Jesus, não buscava a glória que vem dos homens – 1Ts 2:6, aceitava a desonra – 2Co 6:8 e 4:10 vivia para tributar honra a Cristo – 2Co 8:19 e aguardava a honra e louvor que vem de Cristo – Rm 2:7, 10 e 5:2

    • Orgulho:

Paulo recomenda que os irmãos sejam humildes:

… nada façais por contenda ou por vanglória, mas com humildade cada um considere os outros superiores a si mesmo – verso 3

O orgulho faz com que consideremos os demais irmãos inferiores a nós mesmos e essa atitude provoca cismas na comunidade.

    • Egocentrismo:

Paulo faz aqui uma antítese com o conceito de partidarismo cuja principal preocupação é com o lucro e fama a ser obtida. Ter em vista o que do outro e não meramente o que é se expressa o espírito altruísta que Paulo resgatará com o exemplo de Cristo. O contrário desta prática se vê na igreja de Corinto – 2Co 6:7.

Atentar para o que é dos outros não deve ser visto como sinônimo de negligência daquilo que a nós foi confiado. Paulo exorta aos cristãos de Filipos que considerem atentamente os interesses. (necessidades, alvos e projetos) dos outros, sem advogar qualquer atitude de intromissão indevida no alheio ou descaso para com a mordomia pessoal. É o exemplo de Cristo o argumento supremo de Paulo na exortação que faz aos cristãos filipenses principalmente no que diz respeito ao interesse altruísta pelo bem-estar do próximo.

O antídoto para o partidarismo, vanglória, orgulho e egocentrismo é a humildade e altruísmo demonstrados por Jesus Cristo:

Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz – Fp 2.15 a 8

Esses são os impedimentos evidentes.

Quais sãos os impedimentos não-evidentes?

 

  • IMPEDIMENTOS NÃO-EVIDENTES

Os impedimentos não-evidentes se distinguem dos evidentes porque não estão num contexto explicitamente relacionado à unidade e comunhão do corpo de Cristo.

    • Mentira:

Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo, pois somos membros uns dos outros – Ef 4.25

A mentira tem o poder de minar a confiança. Sem confiança o relacionamento não se consolida.

    • Preconceito:

Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. Porque, se entrar na vossa reunião algum homem com anel de ouro no dedo e com traje esplêndido, e entrar também algum pobre com traje sórdido. e atentardes para o que vem com traje esplêndido e lhe disserdes: Senta-te aqui num lugar de honra; e disserdes ao pobre: Fica em pé, ou senta-te abaixo do escabelo dos meus pés, não fazeis, porventura, distinção entre vós mesmos e não vos tornais juízes movidos de maus pensamentos?  Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que são pobres quanto ao mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam? Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não são os ricos os que vos oprimem e os que vos arrastam aos tribunais? Não blasfemam eles o bom nome pelo qual sois chamados? Todavia, se estais cumprindo a lei real segundo a escritura: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem. Mas se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo por isso condenados pela lei como transgressores – Tg 2.1 a 9

A lei mosaica proibia fazer discriminações:

Não farás injustiça no juízo; não farás acepção da pessoa do pobre, nem honrarás o poderoso; mas com justiça julgarás o teu próximo – Lv 19.15

Na comunidade cristã somos todos iguais:

Nisso aproximaram-se dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo-lhe: Mestre, queremos que nos faças o que te pedirmos. Ele, pois, lhes perguntou: Que quereis que eu vos faça? Responderam-lhe: Concede-nos que na tua glória nos sentemos, um à tua direita, e outro à tua esquerda. E ouvindo isso os dez, começaram a indignar-se contra Tiago e João. Então Jesus chamou-os para junto de si e lhes disse: Sabeis que os que são reconhecidos como governadores dos gentios, deles se assenhoreiam, e que sobre eles os seus grandes exercem autoridade. Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Pois também o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos – Mc 10.35 a 45

Noutra ocasião Jesus afirmou:

Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos. E a ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem queirais ser chamados guias; porque um só é o vosso Guia, que é o Cristo. Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo. Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado – Mt 23.8 a 12

    • Inveja:

Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque onde há ciúme e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má – Tg 3.13 e 16 (zēlos – Rm 13.13; 1Co 3.3; Gl 5.20 – inveja – NVI)

A inveja (amargo ciúme) provoca dissensões e intrigas na comunidade.

A respeito da inveja o sábio foi taxativo:

O coração tranquilo é a vida da carne; a inveja, porém, é a podridão dos ossos – Pv 14.30

Cruel é o furor, e impetuosa é a ira; mas quem pode resistir à inveja?  – Pv 27.4

    • Maledicência:

Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz. Há um só legislador e juiz, aquele que pode salvar e destruir; tu, porém, quem és, que julgas ao próximo? – Tg 4.11 e 12

Há certo sadismo na prática da maledicência. Há também uma noção equivocada de que ao falarmos mal de alguém esse alguém é prejudicado sem que nós também sejamos prejudicados.

 

CONCLUSÃO:

O que fazer?

Quando se trata de pecados, há duas coisas a fazer.

    • Confessar:

Se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça – 1Jo 1.8 e 9

Além de confessar é necessário também…

    • Abandonar:

O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia – Pv 28.13

Que Deus nos ajude em nosso “esforço diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz”. Amém

 

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