Incentivos à comunhão

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz – Ef 4.1 a 3

 

INTRODUÇÃO:

No primeiro sermão desta série foi dito que:

  1. A nossa comunhão é com o Pai, com o Filho, uns com os outros por meio do Espírito Santo
  2. Nossa comunhão é um reflexo da comunhão que há entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo
  3. Nossa comunhão se torna visível na convivência harmoniosa (tanto quanto possível)

No sermão seguinte foi dito que há impedimentos evidentes e não evidentes à comunhão cristã:

  • IMPEDIMENTOS EVIDENTES
    • Partidarismos;
    • Vanglória;
    • Orgulho
    • Egocentrismo

 

  • IMPEDIMENTOS NÃO-EVIDENTES
    • Mentira
    • Maledicência
    • Inveja
    • Preconceito

Se o pecado é um impedimento, a santidade é o principal incentivo à comunhão cristã.

E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e nele não há trevas nenhumas. Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade; mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado – 1Jo 1.5 a 7

  • A DIGNIDADE DA VOCAÇÃO CRISTÃ

O texto inicial desse sermão afirma que há algo a que Paulo chama de vocação cristã.

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz – Ef 4.1 a 3 (editado)

Que vocação é essa?

O termo igreja é derivado da ideia de uma convocação – ekklesia – lit. ser chamado para fora. Fomos convocados – chamados – para sair de um lugar e adentrar a outro.

Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz. Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados – Cl 1.9 a 14 (editado)

Paulo ora pelos irmãos de Colossos para que eles “transbordem do pleno conhecimento da vontade de Deus, em toda a sabedoria e entendimento espiritual” para que possam “viver de modo digno do Senhor” – versos 9 a 12:

  1. Frutificando em toda boa obra;
  2. Crescendo no pleno conhecimento de Deus; e
  3. Sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz.

A oração de Paulo se fundamenta numa verdade basilar da fé cristã: “fomos libertos por Deus do império das trevas e transportado para o reino do Filho do seu amor” – verso 13. Isso significa que fomos tirados de um local de trevas e transportados para um novo ambiente onde há amor. Paulo ao invés de contrastar trevas com luz ele contrasta trevas com amor. Nós deixamos para trás o império das trevas e adentramos ao reino do amor. Nesse reino de amor o rei é o Filho.

Nesta nova realidade somos chamados pelo Filho a permanecer em seu amor:

Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço. Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo. O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei – Jo 15.9 a 12

A condição para permanecer no amor do Filho é guardar os seus mandamentos. O mandamento do Filho é esse: “que vos ameis uns aos outros” da mesma forma que o Filho nos amou – verso 12. João entendeu muito bem a natureza dessa vocação:

Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado – 1Jo 4.7 a 12

A vocação cristã consiste em amar a Deus e amar uns aos outros como Cristo nos amou. O amor por Deus e o amor fraterno formam uma unidade composta de duas feições. Amando a Deus e uns aos outros estamos vivendo de modo digno de nossa vocação.

  • O VÍNCULO DA PAZ

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz – Ef 4.1 a 3

Além da vocação celestial Paulo menciona o vínculo da paz. Que vínculo é esse e a que paz ele se refere?

O termo vínculo pode significar a corrente que segura a pessoa ou o meio de segurar algo, a ligação que fixa tudo. No sentido espiritual é a paz (Ef. 4.3) e o amor (Cl 3.14) o vínculo divino que une os crentes. (BROWN, 1982, p. 80-82).

O termo grego usado por Paulo no verso 1 é o mesmo que ele usa no verso 3:

O substantivo desmios (verso 1) transmite o sentido básico de “atado” “em cadeias” ou “preso”, o verbo desmeien significa “atar juntos”, “acorrentar”. O substantivo desmē refere-se a um feixe atado junto a outro feixe. O termo desmōtērion é “prisão’, “cárcere” e desmōtēs é “um prisioneiro”. (BROWN, 1982, p. 80-82).

Ao usar o mesmo termo Paulo indica que assim como ele se via preso, acorrentado a Cristo, assim também cada cristão, di igual modo, está acorrentado, vinculado, preso à paz. A expressão “vínculo da paz” qualifica também a “unidade concedida pelo Espírito de Deus”. Este “vínculo da paz” é o meio pelo qual o Espírito concede unidade à igreja. A unidade do Espírito é produzida a partir da ação deste mesmo Espírito unindo pela paz os crentes fazendo com que tenham paz consigo mesmo, com Deus e com os demais cristãos, membros do corpo de Cristo. Uma transliteração deste verso poderia ser feita assim: “O Espírito de Deus dá a vocês a paz e esta os une, e vocês, desta forma, podem fazer o melhor para preservar esta unidade promovida por Ele”. Num sentido mais lato, Paulo os exorta a “usar” o vínculo da paz, para preservar a unidade que o Espírito concede (BRATCHER & NIDA 1982, p. 95).

A paz a que Paulo se refere é a paz que procede de Deus e nos reconcilia em três níveis:

  1. Paz com Deus:

A respeito do Messias o profeta disse:

Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso. Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados – Is 53.3 a 5 (editado)

E Paulo interpretou:

Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus – Rm 5.1 e 2

  1. Paz uns com os outros:

Na comunidade cristã de Éfeso havia cristãos que eram judeus de nascimento e crença e havia também gentios pagãos que se converteram a Cristo. Entre eles havia uma “parede de separação”, mas Jesus Cristo veio e aboliu toda separação:

Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito – Ef 2.11 a 18

Uma vez em Cristo estamos todos unidos a ele e nesse ambiente não há diferença entre judeus e gentios:

Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos – Cl 3.9 a 11

  1. Paz no coração:

Paz no coração, ou paz na alma, é resultante da paz com Deus e com o próximo. Ela também é uma dádiva de Deus, concedida a nós por meio de Jesus Cristo.

Em seu discurso de despedida Jesus disse aos discípulos:

Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize – Jo 14.27

Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo – Jo 16.33

Após sua ressurreição Jesus apareceu aos discípulos e lhes concedeu a paz:

Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! […] Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. […] Passados oito dias, estavam outra vez ali reunidos os seus discípulos, e Tomé, com eles. Estando as portas trancadas, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! – Jo 20.19; 21 e 26

A paz é fruto do Espírito – Gl 5.22 e 23.

  • A EDIFICAÇÃO MÚTUA

E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. […] E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor – Ef 4.7 a 16 (editado)

Todos os que nasceram de novo foram colocados em Cristo, pelo Espírito Santo para formarem um corpo:

Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito – 1Co 12.12 e 13

Como um corpo cresce?

Pela justa cooperação (sinergia) de cada parte. Assim, o corpo de Cristo que somos nós, cresce e amadurece de acordo com a “justa cooperação de cada parte” efetuando assim “seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor” – verso 16.

Precisamos uns dos outros para:

1) O aperfeiçoamento dos santos; 2) O desempenho do serviço dos santos; 3) Chegarmos à unidade da fé e do pleno conhecimento do filho de Deus; 4) Chegarmos à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro; e 5) Crescermos em tudo naquele que é a cabeça, Jesus Cristo.

Sem a justa cooperação de cada parte do corpo ele não cresce e não se cura. A comunhão cristã precisa da disposição de cada membro do corpo de Cristo em cooperar para que todos nós cresçamos.

A imaturidade cristã é um reflexo da ausência da edificação mútua e essa última é essencial para que haja um desenvolvimento sadio da comunhão cristã. Sem a edificação mútua permanecemos expostos a “todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”. Mas, por meio da edificação mútua todos nós podemos chegar à “à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”. Esse é o supremo propósito:

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos – Rm 8.29

 

CONCLUSÃO:

Se, por um lado, há diversos impedimentos à comunhão cristã, há também alguns incentivos poderosíssimos que nos motivará a nos esforçarmos diligentemente por “preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz”. Esses estímulos são mais que suficientes para que não desistamos de buscar a comunhão que nos foi dada gratuitamente, porém obtida por meio de um sacrifício sem igual, a morte de Jesus Cristo na cruz. Que Deus nos ajude. Amém

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