O que queremos

No dia seguinte João estava ali novamente com dois dos seus discípulos. Quando viu Jesus passando, disse: Vejam! É o Cordeiro de Deus! Ouvindo-o dizer isso, os dois discípulos seguiram a Jesus. Voltando-se e vendo Jesus que os dois o seguiam, perguntou-lhes: O que vocês querem? Eles disseram: Rabi, (que significa Mestre), onde estás hospedado? Respondeu ele: Venham e verão. Então foram, por volta das quatro horas da tarde, viram onde ele estava hospedado e passaram com ele aquele dia
Jo 1.35 a 39 (NVI)

 

INTRODUÇÃO:

É muito interessante que Jesus tenha feito essa pergunta aos discípulos.

Você já se perguntou: O que eu realmente quero?

O verbo grego zetein indica busca, desejo, inquirição; daí poder ser traduzido como buscar, querer, desejar, indagar, inquirir.

Jesus queria saber o que eles estavam buscando, o que eles queriam ao procurá-lo.

Se Jesus perguntar a você hoje: O que você quer?  O que você responderia?

Aristóteles define o ser humano como um animal que deseja e pensa, nessa ordem.

O que nós, seres humanos, buscamos?

  1. Felicidade (boa vida)
  2. Prazeres de diferentes tipos
  3. Poder (influência)
  4. Fama (reconhecimento)
  5. Realização Pessoal

Nada dessas coisas são em si negativas. Qualquer uma dessas opções são legítimas e legitimadas por sua finalidade. Nesse sentido, felicidade para quê? Prazer para quê? Poder para quê? Fama para quê? Realização pessoal para quê?

TESE:

Ao final das contas o que queremos mesmo é viver. De todas as coisas constantes na lista acima a vida é, de longe, a mais importante. No fundo ansiamos por vida. Não uma vida qualquer, uma boa vida, uma vida plena de sentido, alegria e realizações.

E é justamente isso que Deus nos oferece em Jesus Cristo:

…eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância – Jo 10.10b

Há, segundo me parece 3 realidades:

  1. A vida – No caso a vida biológica e psicológica.
  2. A sub-vida – Uma vida norteada pelo egocentrismo, pela busca desenfreada por felicidade, riquezas e realização pessoal.
  3. A vida abundante – A vida integral no sentido vertical, horizontal e interior. Vida de comunhão com Deus, com o próximo e paz consigo mesmo.

 

I – A VIDA, A SUB-VIDA E A VERDADEIRA VIDA

Há uma tensão inegável entre o que Deus quer e o que queremos. O reconhecimento dessa verdade já é um grande progresso rumo ao reconhecimento de que a vontade de Deus é sempre “boa, perfeita e agradável” – Rm 12.2c

Na maioria das vezes escolhemos algo que aos nossos olhos parece ser a vida, mas é a sub-vida:

Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte – Pv 14.12 e 16.25

 

ESCOLHENDO A SUB-VIDA

 

  • As campinas do Jordão:

Levantou Ló os olhos e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada (antes de haver o SENHOR destruído Sodoma e Gomorra), como o jardim do SENHOR, como a terra do Egito, como quem vai para Zoar. Então, Ló escolheu para si toda a campina do Jordão e partiu para o Oriente; separaram-se um do outro. Habitou Abrão na terra de Canaã; e Ló, nas cidades da campina e ia armando as suas tendas até Sodoma. Ora, os homens de Sodoma eram maus e grandes pecadores contra o SENHOR – Gn 13.10 a 13

– Abraão deu a Ló a possibilidade de escolher. Ló, ao escolher as campinas do Jordão escolheu a sub-vida.

Aristóteles fala em termos de Bem e Bem Aparente. O Bem é a finalidade última da existência humana enquanto o Bem Aparente é uma noção equivocada do que seja o bem último da existência humana.

– Ló tinha uma ideia de bem, mas confundiu o Bem com o Bem Aparente.

Uma vida mal vivida é uma sub-vida, uma mera sobrevivência.

  • O Pedido dos Filhos de Israel:

Tendo Samuel envelhecido, constituiu seus filhos por juízes sobre Israel. O primogênito chamava-se Joel, e o segundo, Abias; e foram juízes em Berseba. Porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele; antes, se inclinaram à avareza, e aceitaram subornos, e perverteram o direito. Então, os anciãos todos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e lhe disseram: Vê, já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o têm todas as nações – 1Sm 8.1 a 5

Deus queria que eles fossem diferentes de “todas as nações”. Mas eles queriam ser “como todas as nações”.

O que os filhos de Israel queriam era exatamente o oposto do que Deus queria para eles. Eles achavam que a vida das outras nações era melhor que a deles. As outras nações não seguiam o “rígido Decálogo”.

Eles acreditavam que seriam livres sendo como “todas as nações”.

Por insistirem em ser como “todas as nações” eles tiveram que aturar um péssimo reinado de 40 anos. Ao fim do reinado de Saul eles estavam arrependidos de querer ser como “todas as nações”.

 

ESCOLHENDO A VIDA:

  • O Engano de Pedro:

Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia. E Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá. Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens. Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á. Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma? – Mt 16.21 a 26

Pedro pensava em termos humanos. Ele queria preservar a vida de Jesus, e a sua também. O instinto de preservação fala mais alto em situações ameaçadoras.

 

ESCOLHENDO A VERDADEIRA VIDA:

  • A opção de Cristo:

Em seguida, foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar; e, levando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo. Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres – Mt 26.36 a 39

Jesus poderia pensar unicamente em si e poupar-se. Ele não era obrigado a morrer na cruz. Ele não estava em dívida com Deus. Durante toda a sua vida o diabo o tentou para desviá-lo da cruz.

Jesus escolheu a cruz porque:

  1. Considerou Deus digno de seu sacrifício:

Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste; não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade. Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste (coisas que se oferecem segundo a lei), então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade – Hb 10.5 a 9

  1. Compadeceu-se de nós:

Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles. […] Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados – Hb 2.10, 17 e 18

  1. Tinha em vista a alegria eterna:

Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito – Is 53.11a

… olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Hb 12.2

Jesus sabia que o Pai havia destinado algo superior para ele.

 

AS COISAS DAQUI E AS COISAS DALÉM

Jesus repreendeu Pedro por sugerir que ele evitasse a cruz:

Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens – Mt 16.23

As coisas de Deus são as coisas celestiais e as coisas dos homens são coisas terrenais. Jesus mandou que nossa mente e coração esteja nas coisas celestiais:

Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração – Mt 6.19 a 21

Acumular tesouros no céu significa investir naquilo que perdurará para a eternidade. O único investimento que perdurará para a eternidade é o investimento no reino de Deus.

  • O engano das coisas terrenas

Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente – 1Jo 2.15 a 17

O mundo e tudo o que ele oferece unicamente aumenta a nossa cobiça. Os desejos de nossa alma são insaciáveis nesse mundo.

Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado; porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão – Hb 11.24 a 26

Além de transitórios, os prazeres terrenais são destrutivos.

 

  • A segurança das coisas celestiais

Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória – Cl 3.1 a 4

Nossa vida está escondida por Deus em Cristo e é nela que devemos concentrar nossa atenção.

Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas – 2Co 4.16 a 18

Se aquilo que queremos for efêmero, nosso prazer será breve e ilusório. Se, todavia, nos concentrarmos naquilo que é eterno, então nosso prazer será pleno e duradouro.

 

A PLENITUDE DA VIDA

Deus requereu de Jesus a vida que lhe concedera:

Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste; não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade. Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste (coisas que se oferecem segundo a lei), então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade – Hb 10.5 a 9

Jesus rendeu sua vida a Deus e Deus lhe restaurou a vida de forma plena e abundante:

Alegra-se, pois, o meu coração, e o meu espírito exulta; até o meu corpo repousará seguro. Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente – Sl 16.9 a 11

 

CONCLUSÃO:

Jesus continua perguntando:

O que você quer?

Se você quiser uma sub-vida, uma sub-vida você terá.

Mas se você deliberadamente der a Deus a sua vida ele lhe dará vida eterna, uma vida abundante de sentido e plena de realizações.

 

 

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