Tornando-se um adorador

No ano em que o rei Uzias morreu, eu vi o Senhor assentado num trono alto e exaltado, e a aba de sua veste enchia o templo. Acima dele estavam serafins; cada um deles tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E proclamavam uns aos outros: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória”. Ao som das suas vozes os batentes das portas tremeram, e o templo ficou cheio de fumaça. Então gritei: Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” Então um dos serafins voou até mim trazendo uma brasa viva, que havia tirado do altar com uma tenaz. Com ela tocou a minha boca e disse: “Veja, isto tocou os seus lábios; por isso, a sua culpa será removida, e o seu pecado será perdoado”. Então ouvi a voz do Senhor, conclamando: “Quem enviarei? Quem irá por nós? ” E eu respondi: “Eis-me aqui. Envia-me!” – Isaías 6.1 a 8

 

INTRODUÇÃO

Provavelmente, o profeta Isaías nasceu e foi educado em Jerusalém. Exceto pelo nome de seu pai, Amoz, sua genealogia é desconhecida. Alguns supõem que fosse parente do rei Uzias (791 a 740 a.C.) porque tinha acesso à corte e preocupava-se muito com a questão da liderança. Não é possível provar que pertencia à linhagem real, embora sua forma de escrever revele uma pessoa extremamente talentosa, com excelente formação acadêmica.

O profeta é incomparável em sua expressão literária, conforme o livro de Isaías demonstra, com sua forma de expressão, seus artifícios retóricos e imagens literárias. Seu estilo demonstra um vocabulário rico e imaginativo, com palavras e expressões exclusivas. O livro também revela brilhantismo em seu uso das expressões retóricas: a guerra (Is 63.1-6), os problemas sociais (3.1-17) e a vida rural (5.1-7). Ele também personifica a criação: o sol e a lua (24.23), o deserto (35.1), as montanhas e as árvores (44.23; 55.12). Emprega zombarias (14.4-23), expressões apocalípticas (Is 24 a 27), sarcasmo (44.9-20), personificações, metáforas, jogos de palavras, aliterações e assonâncias.

Isaías era um pregador extremamente talentoso, que empregava plenamente toda a riqueza da língua hebraica. Sua imaginação poética e sua mensagem provocam uma reação. Sua profecia não foi escrita para que se concordasse com ela, mas para gerar uma resposta. O piedoso respondia com temor e adoração, enquanto o ímpio endurecia o coração contra o Senhor.

Isaías era casado com uma “profetisa” (Is 8.3). Não se sabe se este era realmente seu ministério ou se era chamada assim por ser esposa do profeta. Por meio desta união, tiveram dois filhos, cujos nomes simbólicos refletiam toda a mensagem do livro. O primeiro recebeu o nome de Sear-Jasube, que significa “(somente) um remanescente voltará” (Is 7.3; veja adiante). O segundo chamou-se Maer-Salal-Has-Baz, que significa “rápido-despojopresa-segura” (Is 8.1; veja adiante).

Isaías ministrou ao povo de Deus durante uma época de grande instabilidade política (740 a 686 a.C.). Seu ministério está dividido em cinco períodos: (1) o da crítica social (caps. 1 a 5), 740 a 734 a.C.; (2) o da guerra siro-efraimita (caps. 7 a 9), 734 a 732 a.C.; (3) o da rebelião antiAssíria (caps. 10 a 23), 713 a 711 a.C.; (4) o da rebelião anti-Assíria e do cerco de Jerusalém (caps. 28 a 32; 36 a 39), 705 a 701 a.C.; (5.) e o dos últimos dias de Ezequias e possivelmente início do reinado de Manassés (caps. 56 a 66), 701 a 686 a.C. Esses períodos correspondem aos reis mencionados na introdução: “Visão de Isaías, filho de Amoz, a qual ele viu a respeito de Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá” (Is 1.1).

O início do ministério de Isaías é datado pela referência à morte do rei Uzias (Is 6.1), por volta de 740 a.C. Sob esse reinado, Judá alcançara notável progresso econômico (2 Cr 26.6-15) e fizera uma tentativa de se restabelecer como potência política. O ano da morte de Uzias é mencionado em conexão com a extraordinária visão que Isaías experimentou (6.1), a qual também marcou o início de um ministério profético que se estendeu por um período de 40 anos. De acordo com alguns teólogos, a visão não constituiu o chamado original, mas significou uma renovação do chamado profético.

A visão de Deus transformou Isaías em um servo do Senhor com uma mensagem única. Trata-se de um texto com um contraste radical. Por um lado, apresenta o Senhor em sua exaltação como Rei e em sua perfeição como Santo e glorioso. Pelo outro, apresenta o povo no estado de impureza e debaixo da condenação de Deus. A mensagem de Isaías engloba três ênfases, que emanam da experiência dessa visão: (1) somente Deus é exaltado e santo; (2) como o Rei glorioso de toda a criação, Ele julga a humanidade pecadora; e (3) manterá um remanescente, que planeja consagrar para si e com o qual compartilhará sua glória. Essas ênfases são características do texto como um todo e são discutidas nos primeiros capítulos do livro. (Quem é Quem na Bíblia)

Isaías nos permite ver como um adorador deve ver algumas verdades inegociáveis quando o assunto é adoração.

Qualquer pessoa que deseje ser um adorador por excelência precisa partilhar da experiência de Isaías e obter a mesma compreensão que o profeta teve quando foi ao templo do Senhor.

 

  1. A VISÃO DA GRANDIOSIDADE DE DEUS

No ano em que o rei Uzias morreu, eu vi o Senhor assentado num trono alto e exaltado, e a aba de sua veste enchia o templo. Acima dele estavam serafins; cada um deles tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E proclamavam uns aos outros: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória”. Ao som das suas vozes os batentes das portas tremeram, e o templo ficou cheio de fumaça – versos 1 a 4

 

O profeta, provavelmente parente do rei Uzias, estava entristecido com o modo como o rei morrera.

Entretanto, depois que Uzias se tornou poderoso, o seu orgulho provocou a sua queda. Ele foi infiel ao Senhor, ao seu Deus, e entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar de incenso. O sumo sacerdote Azarias, e outros oitenta corajosos sacerdotes do Senhor, foram atrás dele. Eles o enfrentaram e disseram: “Não é certo que você, Uzias, queime incenso ao Senhor. Isto é tarefa dos sacerdotes, os descendentes de Arão consagrados para queimar incenso. Saia do santuário, pois você foi infiel e não será honrado por Deus, o Senhor”. Uzias, que estava com um incensário na mão, pronto para queimar o incenso, irritou-se e indignou-se contra os sacerdotes; e na mesma hora, na presença deles, diante do altar de incenso no templo do Senhor, surgiu lepra em sua testa. Quando o sumo sacerdote Azarias e todos os outros sacerdotes viram a lepra, expulsaram-no imediatamente do templo. Na verdade, ele mesmo ficou ansioso para sair, pois o Senhor o havia ferido. O rei Uzias sofreu de lepra até o dia em que morreu. Durante todo esse tempo morou numa casa separada, leproso e excluído do templo do Senhor. Seu filho Jotão tomava conta do palácio e governava o povo. Os demais acontecimentos do reinado de Uzias, do início ao fim, foram registrados pelo profeta Isaías, filho de Amoz. Uzias descansou com os seus antepassados e foi sepultado perto deles, num cemitério que pertencia aos reis, pois o povo dizia: “Ele tinha lepra”. Seu filho Jotão foi o seu sucessor – 2 Crônicas 26.16 a 23

 

Sua dor o move ao templo. No templo ele tem uma visão da grandiosidade de Deus. Elementos supremamente exaltados aparecem para ele:

  1. Um trono alto e exaltado
  2. As abas das vestes enchendo o templo
  3. Serafins – seres ardentes
  4. Um clamor triplo de santidade – Qadosh
  5. A declaração de que a terra está cheia da glória de Deus

Esses elementos realçam a natureza grandiosa, majestosa e santa de Deus.

A santidade é a beleza de Deus:

  1. Ela significa que Deus é absolutamente separado de tudo que criou.
  2. Ela significa que Deus é absolutamente imune a toda e qualquer contaminação que possa acometer sua criação
  3. Ela significa que Deus é sumamente exaltado acima de todas as obras de suas mãos.

Ilustração:

Aula de teologia na Igreja Batista Betel em Umuarama.

Se pensarmos adequadamente, devemos pedir perdão a Deus cada vez que nos referimos a ele.

Falar de Deus equivale a diminui-lo.

Para sermos adoradores por excelência devemos ser tomados de um santo temor proveniente de uma visão correta de sua grandiosidade e santidade.

  1. A VISÃO DE NOSSA PECAMINOSIDADE

Então gritei: Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” – verso 5

 

Ao ser confrontado com a visão da grandiosidade e santidade de Deus o profeta é levado a considerar seu estado de espírito.

Ele conclui que é tão pecador como seu povo.

A consciência de temos de nossa evidente pecaminosidade é equivalente à consciência que temos da grandiosidade e santidade de Deus.

Enquanto olhamos para os nossos semelhantes podemos até nos considerar justos e bons:

A alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola: “Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’ – Lucas 18.9 a 12

 

A perda da visão de Deus como referencial de santidade faz com que nos julguemos mais santos, justos e bons do que de fato somos. No capítulo 5 Isaías proferiu diversos ais contra o povo:

Ai de vocês que adquirem casas e mais casas, propriedades e mais propriedades até não haver mais lugar para ninguém e vocês se tornarem os senhores absolutos da terra – verso 8

 

Ai dos que se levantam cedo para embebedar-se, e se esquentam com o vinho até à noite – verso 11

 

Ai dos que se prendem à iniquidade com cordas de engano, e ao pecado com cordas de carroça, e dizem: “Que Deus apresse a realização da sua obra para que a vejamos; que se cumpra o plano do Santo de Israel, para que o conheçamos”. Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo. Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos e inteligentes em sua própria opinião. Ai dos que são campeões em beber vinho e mestres em misturar bebidas, dos que por suborno absolvem o culpado, mas negam justiça ao inocente – versos 18 a 23

Ao ser confrontado pela visão da grandiosidade e santidade de Deus ele proferiu um “ai” contra si mesmo:

Então gritei: Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” – verso 5

 

Houve uma mudança de perspectivas.

Para sermos um adorador por excelência precisamos nos dispor a reconhecer a verdade a respeito de nós mesmos. Verdade que somente poderemos obter mediante uma confrontação de nossa realidade com a sublimidade do ser divino.

  • A VISÃO DA GRACIOSIDADE DE DEUS

Então um dos serafins voou até mim trazendo uma brasa viva, que havia tirado do altar com uma tenaz. Com ela tocou a minha boca e disse: “Veja, isto tocou os seus lábios; por isso, a sua culpa será removida, e o seu pecado será perdoado” – versos 6 e 7

A mensagem do evangelho é a verdade a respeito de Deus, de nós mesmos e da imensa graciosidade de Deus para conosco.

Deus proveu ao profeta um meio para que sua iniquidade e seu pecado fossem removidos e perdoados.

Essa brasa viva é uma representação de Jesus Cristo. Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo – João 1.29 e cujo sangue nos purifica de todas as nossas injustiças:

Se, porém, andamos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça – 1 João 1.7 a 9

 

Ao prover perdão ao profeta Deus o habilita a permanecer em sua presença.

Adoração é coisa para gente perdoada e remida pelo sangue de Jesus Cristo.

Somente os que foram perdoados e justificados pela graça de Deus podem adorar ao Deus grandioso e gracioso.

É importante ressaltar que a provisão e aplicação da graça é algo que vem de Deus a nós. A única ação que cabe a nós é a ação de reconhecer que somos absolutamente indignos e necessitados dessa graça que nos alcança e nos habilita a sermos adoradores por excelência.

 

  1. A VISÃO DA NOSSA COMISSÃO

Então ouvi a voz do Senhor, conclamando: “Quem enviarei? Quem irá por nós? ” E eu respondi: “Eis-me aqui. Envia-me!” – verso 8

 

Uma vez confrontados pela grandiosidade de Deus e alcançados por sua graça não podemos ficar indiferente quanto aos que perecem sem o perdão que Deus oferece por meio de Jesus Cristo.

É nosso dever, como adoradores do Deus sublime e gracioso, divulgar a todos que ele nos ama e nos chama a um relacionamento de amor com ele.

Paulo se descrevia como devedor:

Sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes. Por isso estou disposto a pregar o evangelho também a vocês que estão em Roma. Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego.  Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: “O justo viverá pela fé” – Romanos 1.14 a 17

 

Constrangido pelo amor de Deus:

Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou – 2 Coríntios 5.14 e 15

 

Nós precisamos ser tomados pela consciência dos leprosos que viviam nas portas de Samaria:

Havia quatro leprosos junto à porta da cidade. Eles disseram uns aos outros: “Por que ficar aqui esperando a morte? Se resolvermos entrar na cidade, morreremos de fome, mas se ficarmos aqui, também morreremos. Vamos, pois, ao acampamento dos arameus para nos render. Se eles nos pouparem, viveremos; se nos matarem, morreremos”.  Ao anoitecer, eles foram ao acampamento dos arameus. Quando chegaram às imediações do acampamento, não havia ninguém ali, pois o Senhor tinha feito os arameus ouvirem o ruído de um grande exército com cavalos e carros de guerra, de modo que disseram uns aos outros: “Ouçam, o rei de Israel contratou os reis dos hititas e dos egípcios para nos atacar!”. Então, para salvar suas vidas, fugiram ao anoitecer, abandonando tendas, cavalos e jumentos, deixando o acampamento como estava. Tendo chegado às imediações do acampamento os leprosos entraram numa das tendas. Comeram e beberam; pegaram prata, ouro e roupas e saíram para esconder tudo. Depois voltaram e entraram noutra tenda, pegaram o que quiseram e esconderam isso também. Então disseram uns aos outros: “Não estamos agindo certo. Este é um dia de boas notícias, e não podemos ficar calados. Se esperarmos até o amanhecer, seremos castigados. Vamos imediatamente contar tudo no palácio do rei”. Então foram e chamaram as sentinelas da porta da cidade e lhes contaram: “Entramos no acampamento arameu, e não vimos nem ouvimos ninguém. Havia apenas cavalos e jumentos amarrados, e tendas abandonadas”. As sentinelas da porta proclamaram a notícia, e ela foi anunciada dentro do palácio – 2 Reis 7.4 a 11

 

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