A suficiência da Graça de Deus

Porque a tua graça é melhor do que a vida; os meus lábios te louvam. Assim, cumpre-me bendizer-te enquanto eu viver; em teu nome, levanto as mãos – Sl 63.3 e 4

Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras – Tt 2.11 a 14

 

INTRODUÇÃO:

Algum tempo depois da Reforma Protestante, alguns teólogos se reuniram e chegaram à conclusão de que cinco pilares deveriam ser usados para nortear os fundamentos da Reforma. São eles:

  1. Sola Scriptura – Somente as Escrituras
  2. Solo Cristus – Somente Cristo
  3. Sola Gratia – Somente a Graça
  4. Sola Fide – Somente a Fé
  5. Soli Deo Gloria – Somente a Deus seja a Glória

Cada “sola” indica a suficiência que os teólogos reformados viram naquela particularidade da fé cristã. Assim, Sola Scriptura indica a suficiência das Escrituras (AT e NT) em relação à declaração da Igreja Romana ao insistir na necessidade de colocar em pé de igualdade a ela a tradição. Solo Cristus se fez necessário para se contrapor à máxima da Igreja Romana de que fora da Igreja (a Romana) não há salvação. Sola Gratia e Sola Fide se contrapõem à suposta necessidade de caridade para a obtenção da salvação. Soli Deo Gloria indica que o fim último da existência e salvação humana é a glória de Deus.

Nesta ocasião faremos uma defesa da suficiência da graça de Deus. Para tanto iremos abordar o tema em 3 perspectivas distintas:

  1. A Graça e a Trindade
  2. A Graça e nossa Salvação
  3. A Graça e o Futuro

Vejamos:

A GRAÇA E A TRINDADE

Em primeiro lugar devo salientar que não há graça no relacionamento da Trindade. A razão é bem simples. Graça pressupõe 2 realidades:

  1. Absoluta Liberdade do Agraciador
  2. Absoluta Falta de Méritos do Agraciado

No relacionamento trinitariano há:

  • O Pai que ama o Filho, que é digno desse amor que lhe é devotado.
  • O Filho que ama o Pai, que é digno do amor que lhe é devotado.
  • O Pai e o Filho que amam o Espírito Santo, que é digno do amor que lhe é devotado.

Enfim, há absoluta liberdade da parte de quem ama e absoluta dignidade naqueles que são objeto desse amor.

  1. Deus é a fonte de toda graça:

Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar – 1Pe 5.10

Deus agiu de forma graciosa ao criar os anjos. A ausência de méritos dos anjos se dá por ausência de atos que configurem méritos. Ou seja, eles nada fizeram para merecer serem criados e amados por Deus.

Deus age de forma graciosa para com os seres humanos ao criá-los e redimi-los. Ao criá-los Deus usa o mesmo critério que usou em relação aos anjos, Porém, ao redimi-los Deus usa de graça aos que mereciam ser tratados com justiça e ira.

A graça é a bondade de Deus endereçada aos que são indignos dela.

  1. A graça de Deus está em seu Filho:

E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. […] Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça. Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo – Jo 1.14, 16 e 17

Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus – 2Tm 2.1

  1. O Espírito Santo é o Espírito da Graça

De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? – Hb 10.29

Como se pode ver a graça procede da Trindade.

  1. Graça é o modus operandi da Trindade:

Benigno e misericordioso é o SENHOR, tardio em irar-se e de grande clemência. O SENHOR é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras – Sl 145.8 e 9

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência,  desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória – Ef 1.3 a 14 (editado)

Sendo a fonte de toda graça, a manifestação da graça e tendo a graça como seu modus operandi a Trindade se revela a nós como a fonte de nossa vida e salvação.

 

A GRAÇA E NOSSA SALVAÇÃO

Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras – Tt 2.11 a 14

A graça de Deus se manifestou trazendo salvação a todos nós. Não há salvação por meio de obras (performance) ou boa obras (caridade).

  1. Não há salvação por performance:

Paulo indagou dos irmãos da Galácia:

Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne? – Gl 3.3

Tendo sido salvos pela graça eles queriam manter a salvação por meio de performance espiritual. Porém, a salvação, do começo ao fim é por graça.

Há duas noções opostas quando a Bíblia fala de carne:

  1. As obras pecaminosas que refletem um viver libertino e promíscuo – Gl 5.19 a 21
  2. As obras religiosas que aparentam piedade e culto a Deus – Lc 18.10 a 13

No caso dos gálatas a carne se refere ao segundo caso. Eles estavam se esforçando, por meio de obediência a ritos judaicos para “obter e manter a salvação” que lhes fora oferecida gratuitamente em Jesus Cristo.

A aquisição e manutenção da salvação dependem exclusivamente da atuação eficaz da graça de Deus em nós:

Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade – Fp 2.12 e 13

A santificação é também fruto da graça de Deus operando em nós. A santificação é um crescimento na graça e no conhecimento de Jesus Cristo:

Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno – 2Pe 3.17 e 18

  1. Não há salvação por boas obras:

Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas – Ef 2.4 a 10 (editado)

Por que a salvação não pode ser por boas obras:

  1. Que são boas obras?

Podemos considerar boas obras apenas aquelas feitas de forma absolutamente livre de qualquer interesse escuso e indigno.

Podemos considerar boas obras somente aquelas feitas desinteressadamente e sem intenção de recompensa.

  1. Quem pode fazer boas obras?

Somente pessoas genuinamente boas podem fazer boas obras.

  1. Quantas boas obras serão suficientes?

Não há resposta que satisfaça essa pergunta.

Enfim, parafraseando Paulo a salvação não pode ser por boas obras porque Deus não aceita que nos vangloriemos de absolutamente nada.

 

A GRAÇA E O FUTURO

Quando falamos sobre a graça e o futuro, devemos atentar para o que Paulo disse aos irmãos de Éfeso:

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência,  desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória – Ef 1.3 a 14 (editado)

Segundo Paulo há bênçãos passadas (eleição, predestinação e adoção); há bênção presente (selados pelo Espírito da promessa) e a bênção futura (a redenção – o resgate de sua propriedade).

Redenção aqui significa a aquisição plena da propriedade outrora comprada e devidamente paga. Um homem poderia comprar um navio, por exemplo, e depois vir tomar posse dele. Ao comprar o navio ele sela um documento e deixa uma cópia com o vendedor. Ao retornar ele apresentas os papéis devidamente selados e toma posse de sua propriedade.

Deus nos comprou e o preço foi o sangue de seu Filho:

Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue – At 20.28

Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo – 1Pe 1.17 a 19

O selo da compra é o Espírito Santo.

E também ao que Pedro disse aos cristãos peregrinos:

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma – 1Pe 1.3 a 9

Pedro fala em termos de herança e herdeiros. Deus preserva ambos – herança e herdeiros – por meio do mesmo poder. Hoje temos sido “guardados pelo poder de Deus” a fim de que um dia herança e herdeiros se encontrem na eternidade.

O Cordeiro será reconhecido como o dono de todos os que comprou com seu próprio sangue:

Veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono; e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra. Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos. E os quatro seres viventes respondiam: Amém! Também os anciãos prostraram-se e adoraram – Ap 5.7 a 14

Asafe Borba, músico evangélico brasileiro compôs uma canção que nos diz, de forma bem clara como seremos reconhecidos na eternidade:FOI GRAÇA – ASAPH BORBA

Quando terminar esta vida
E lá no céu eu chegar
Haverá uma multidão de irmãos
Esperando pra me abraçar

E perguntarão a uma voz
Voltados para mim
Ó conta-nos como você, irmão
Venceu e chegou aqui

E falarei, e cantarei
De Jesus que me amou
E que por este pecador
A si mesmo se entregou

[…]

Foi graça, graça, super abundante graça
Graça, graça, preciosa e doce graça
Foi graça irmão, graça irmão
Eu vos digo que foi assim
Foi só pela graça de Jesus
Que eu venci e cheguei aqui

[…]

 

CONCLUSÃO:

Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém! – Jd 1.24 e 25

 

 

 

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