Crer e viver

E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna – João 3.14 e 15

 

INTRODUÇÃO:

O Contexto do Texto:

Um “homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus” procurou Jesus “de noite” na intenção de indagar dele algo.

Não nos é revelado qual era sua indagação. Alguém, com muita propriedade, sugeriu que Nicodemos tinha em mente perguntar a Jesus se ser bom bastava.

Nicodemos, cujo nome pode ser uma invenção do evangelista, para não denunciar o chefe dos fariseus (o nome deriva de nicos – acima, sobrepujante, destaque e demos – povo, literalmente, aquele que está acima do povo, do vulgo), temia a ameaça dos chefes dos sacerdotes – Jo 9.22.

Ele veio de noite, ocultamente e Jesus não lhe permitiu fazer sua pergunta e já foi dando-lhe um veredicto que lhe causou espanto:

Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus –versos 2 e 3

Nascer de novo, como?

Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? – verso 4

Para Jesus não bastava ser bom, tinha que nascer de novo. Nascer de novo, ou nascer do alto é algo que somente o Espírito de Deus pode fazer.

Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.  O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito – versos 5 a 8

Nicodemos ficou mais confuso ainda:

Então, lhe perguntou Nicodemos: Como pode suceder isto? – verso 9

O que ele estava ouvindo era-lhe totalmente estranho. Nada do que ele aprenderam na escola rabínica chegava perto daquilo que acabara de ouvir.

Jesus o confrontou:

Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto; contudo, não aceitais o nosso testemunho. Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais? Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem [que está no céu] – versos 10 a 13

É no meio desse diálogo truncado que Jesus interpõe sua fala:

E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna –versos 14 e 15

É evidente o choque de conceitos entre os dois mundos. Jesus aquele que fala das coisas celestiais e Nicodemos, que mesmo sendo um mestre em Israel, só entende as coisas terrenas. O que desceu do céu não é compreendido pelos que são da terra. Nicodemos achava que Deus era um rei moralista que se contentava em que seus súditos vivessem de acordo com um punhado de regras. Jesus mostrou a ele que Deus havia dado um veredicto desfavorável à velha criação e estava fazendo surgir uma nova criação com pessoas nascidas de novo, nascidas de Deus, nascidas do alto.

É nos versos 14 e 15 que Jesus restabelece um ponto de contato com Nicodemos. Jesus cita um incidente conhecido por Nicodemos – o incidente das serpentes do deserto:

Então, partiram do monte Hor, pelo caminho do mar Vermelho, a rodear a terra de Edom, porém o povo se tornou impaciente no caminho. E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito, para que morramos neste deserto, onde não há pão nem água? E a nossa alma tem fastio deste pão vil. Então, o SENHOR mandou entre o povo serpentes abrasadoras, que mordiam o povo; e morreram muitos do povo de Israel. Veio o povo a Moisés e disse: Havemos pecado, porque temos falado contra o SENHOR e contra ti; ora ao SENHOR que tire de nós as serpentes. Então, Moisés orou pelo povo. Disse o SENHOR a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste, e será que todo mordido que a mirar viverá. Fez Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava – Nm 21.4 a 9

Deus havia tirado o povo de Israel do Egito, da terra da servidão e os conduziu ao deserto. A travessia do deserto se revelou mais penosa do que eles imaginavam. O que deveria durar cerca de dois anos durou quarenta anos em função das rebeliões que o povo promovia de tempos em tempos.

O povo já estava quase chegando à terra prometida. Eles estavam provavelmente no último ano de peregrinação. Eles já deveriam ter aprendido a não murmurar contra Deus, mas murmuraram e demonstraram profunda ingratidão a Deus e sua generosa provisão – versos 4 e 5.

Nicodemos conhecia essa história desde sua infância. Ele certamente não estranhou a menção desse episódio. Mas fica pergunta, por que Jesus escolheu justamente essa história para falar-lhe sobre salvação?

Por que ele não falou do cordeiro pascal, da travessia do Mar Vermelho, do retorno do exílio babilônico?

 

ALGUMAS LIÇÕES A RESPEITO DISSO:

  1. A VIDA É UM CAMINHO SEM VOLTA

A jornada dos israelitas como analogia à nossa vida sob o sol:

Nossa vida segue numa rota inexorável – sem possibilidade de retorno. Uma vez que eles deixaram o Egito para trás era impossível voltar. Não é possível “voltar ao ventre materno”. Nascemos neste mundo, passamos pela infância, adolescência, juventude, nos tornamos adultos, envelhecemos e morremos.

A fonte da juventude é uma lenda.

  • Gilgamés – cura e imortalidade
  • Pausânias – Hera no Peloponeso
  • Alexandre Magno – Expedição à Índia
  • Fernando e Isabel de Castela – Expedição à América
  • Ponce de León – Flórida

Ilustração:

Hernán Cortez, conquistador espanhol que se apossou das terras dos astecas – o território mexicano no século XVI, ao desembarcar no México ordenou que um grupo de marinheiros ficasse nos navios e depois incendiassem os três para que a tripulação não pudesse mais voltar a Cuba de onde haviam partido.

  1. ESSE MUNDO PERIGOSO

Então, partiram do monte Hor, pelo caminho do mar Vermelho, a rodear a terra de Edom, porém o povo se tornou impaciente no caminho. E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito, para que morramos neste deserto, onde não há pão nem água? E a nossa alma tem fastio deste pão vil – versos 4 e 5

  1. O deserto fora de nós:

Há um deserto fora de nós que é hostil a nós. Vivemos num mundo onde há inúmeras possibilidades de sofrermos reveses e até de perdermos a vida. Não há garantias plenas de sobrevivência nesse mundo. Estamos rodeados de perigos tão poderosos que, se tivéssemos consciência de todos eles não dormiríamos em momento algum.

  1. O deserto dentro de nós:

Há um deserto dentro de nós igualmente hostil a nós. Dentro de nós parece haver uma batalha contínua. Dia e noite nos vemos bombardeados por pensamentos diversos, alguns tão opostos a outros que não entendemos como podemos pensar de forma tão dispare.

  • Desejos conflitantes – Ora queremos isso, depois aquilo. O que queríamos ontem já não queremos hoje e amanhã iremos querer outra coisa bem distinta.
  • Amores não correspondidos – Amamos pessoas que amam outras pessoas. Às vezes somos amados por pessoas que não queremos amar. E assim vai a lista infinita de amores e desamores.
  • Expectativas inatingíveis – Somos bombardeados com sonhos custosos, viagens a paraísos distantes de nós e de nossas condições financeiras. Queremos ter, ser e fazer o que não conseguimos ter, ser ou fazer.
  • Equívocos de juízo e raciocínio – Acreditamos em tantas teorias que estão cheias de falácias, de inconsistências e incoerências e nos afundamos em utopias e distopias que nunca se realizam.
  • NESSE MUNDO VIVER É SOBREVIVER

Nesse deserto em que vivemos falta água, comida, sombra, uma brisa suave no entardecer e ainda há muitas serpentes cujo veneno põe fim à nossa existência em meio a sofrimentos indescritíveis.

As serpentes do deserto são também conhecidas como víboras:

Cerastes é um gênero de víboras venenosas encontradas nos desertos e semidesertos desde o norte do Norte de África para leste através da Península Arábica até ao Irã

As cerastes são bem adaptadas às condições extremas do deserto. São pequenas e se movem lentamente. Evitam contato com seres humanos, mas atacam quando se sentem ameaçadas. Os sintomas da picada são dores fortes, necrose da região atingida pela picada, fraqueza, desmaios, sudorese, ansiedade, confusão mental, vômitos, diarréia e, sem tratamento específico, a morte da vítima.

Essas são algumas das serpentes que encontramos em nossa caminhada inexorável.

  • Doenças
  • Decepções
  • Más intenções
  • Conflitos de interesses
  • Violência
  • Desastres naturais

Há coisas evitáveis e coisas inevitáveis.

No caso das serpentes do deserto era algo perfeitamente evitável:

Então, o SENHOR mandou entre o povo serpentes abrasadoras, que mordiam o povo; e morreram muitos do povo de Israel. Veio o povo a Moisés e disse: Havemos pecado, porque temos falado contra o SENHOR e contra ti; ora ao SENHOR que tire de nós as serpentes – versos 6 e 7

A vida neste mundo é difícil, se escolhermos viver reclamando da vida ela se torna ainda mais difícil. Reclamar é como pedir que o mal nos acometa novamente.

  1. É NECESSÁRIO CRER
  2. Olhar para a serpente de metal:

Moisés foi orientado por Deus:

Disse o SENHOR a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste, e será que todo mordido que a mirar viverá. Fez Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava – Nm 21.8 e 9

  1. Uma sobrevida garantida:

Uma pessoa picada pela serpente tem duas escolhas:

  1. Não olhar e morrer

Deixar a morte correr seu curso normal. Podemos fazer isso por:

  • Incredulidade
  • Orgulho
  • Masoquismo
  • Tolice Pura
  1. Olhar e sobreviver

As pessoas que olhavam para a serpente de bronze eram curadas e conseguiam uma sobrevida. Cada pessoa que olhava para a serpente de bronze tinha o privilégio de vencer a morte e poderia ajudar outros a crer no poder da fé.

  1. Olhar para Cristo:

E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna – João 3.14 e 15

Nesse contexto Jesus afirmou a Nicodemos:

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus – Jo 3.16 a 21

Assim como uma pessoa picada pelas serpentes que se recusasse a olhar para a serpente de bronze morreria no deserto, assim aquele que se recusar a crer em Cristo morrerá em seus pecados e não terá a vida eterna:

Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus –  Jo 3.36

Por outro lado, o próprio Jesus Cristo disse:

Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão – Jo 5.24 e 25

 

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