De quem é a culpa?

Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus. É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo – Jo 9.1 a 5

 

INTRODUÇÃO:

Em meados de 1979, em pleno período militar. Eu estava sentado em minha carteira na quarta série A. Era uma sexta-feira. Já se aproximava das 11 horas da manhã quando um grupo, de jalecos brancos, surgiu na porta da sala de aula. Eles conversaram com a professora e a professora nos avisou:

— Hoje teremos uma inspeção.

Inspeção, o que seria isto? Ficamos paralisados diante da notícia. Inspeção, mas inspeção do que?

O grupo vestido de jaleco adentrou a sala de aula e começou a olhar nossas cabeças. Alguns alunos eram dispensados e outros eram retidos. Nós não sabíamos do que se tratava. Eu fiquei apreensivo. Pensei comigo: Será que estão vendo quem é nordestino ou descendente? Será que os dispensados não eram nordestinos e os retidos eram? Uma limpeza étnica no estilo Hitler?

Nada disto era inspeção de piolhos. E, eu fiquei retido.

Bem, o resultado foi uma cabeça toda branquinha de Neocid, um produto para matar piolhos e lêndeas. Foi um horror. O bullyingque se seguiu foi homérico. Durante muitos dias ficamos ouvindo o coro dos que não foram “dedetizados” dizendo: “piolhentos, piolhentos”.

Mas, de quem foi a culpa?

  • De todos?
  • De ninguém?
  • De alguns?
  • De poucos?
  • De muitos?
  • Da maioria?
  • Das minorias?

HIPÓTESES:

  1. Dos piolhos
  2. Do pobre menino
  3. Dos pais
  4. Dos enfermeiros do postinho
  5. Do sistema – Geisel e João Figueiredo
  6. Do primeiro casal
  7. De Deus

 

CULPA:

Do hebraico asham– culpa, ser culpado. Enfatiza a falha em si, o erro cometido. A culpa é uma condição moral ou legal que resulta da violação de uma lei escrita, moral, intuitiva ou espiritual. Do grego enochos– Enfatiza o estado de culpa. A culpa no NT é vista como um fato da condição humana perante Deus e sua lei.

Nietzche em “Genealogia da Moral” afirmou que a culpa era uma invenção dos religiosos para dominar o povo pelo medo da punição.

Dostoievski em “Os Irmãos Karamazovi” no capítulo “O Inquisidor” faz o inquisidor colocar a culpa em Jesus porque deixou os homens livres para obedecer e desobedecer.

O PROBLEMA DA CULPA:

O que fazer com a culpa?

OPÇÃO 1 – NEGÁ-LA

A não admissão da culpa não isenta o culpado da condenação por seu ato.

Posso negar que a lei da gravidade exista e me lançar de um prédio de 100 andares.

A via da negação cria mais problemas para o culpado – I João 1.8

OPÇÃO 2 – TRANSFERI-LA PARA OUTREM

Adão tentou esta via e não deu certo. Saul fez uso deste artifício e não conseguiu se safar.

Num julgamento, o mecanismo de transferência complica ainda mais a situação do culpado.

OPÇÃO 3 – RACIONALIZÁ-LA

Podemos argumentar:

  • O sistema está corrompido…
  • Meus pais não me deram uma criação digna…
  • Sofri demais na vida…
  • Meu temperamento é assim…
  • Foram eles que começaram…

Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá – Ez 18.4

No ensino bíblico o que prevalece é a opinião divina de que o culpado deve ser tratado como culpado e o inocente como inocente:

Não se envolva em falsas acusações nem condene à morte o inocente e o justo, porque não absolverei o culpado – Êx 23.7

Se alguém pecar, fazendo o que é proibido em qualquer dos mandamentos do SENHOR, ainda que não o saiba, será culpado e sofrerá as consequências da sua iniquidade – Lv 5.17

Quando dois homens se envolverem numa briga, terão que levar a causa ao tribunal, e os juízes decidirão a questão, absolvendo o inocente e condenando o culpado – Dt 25.1

Uma pessoa pode ser culpada por:

  1. Excesso – Romanos 1.18, 29 a 32
  2. Falta – Romanos 1.21
  3. Presunção – Romanos 1.22
  4. Inversão de valores – Romanos 1.23
  5. Omissão – Romanos 1.28a
  6. Comissão – Romanos 1.28b

Sendo a culpa do culpado e ele não podendo negá-la, transferi-la e nem racionalizá-la, o que ele deve fazer com a culpa?

OPÇÃO 4 – CONFESSAR

Quando alguém for culpado de qualquer dessas coisas, confessará em que pecou – Lv 5.5

Enquanto eu mantinha escondidos os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer. Pois dia e noite a tua mão pesava sobre mim; minhas forças foram-se esgotando como em tempo de seca. Então reconheci diante de ti o meu pecado e não encobri as minhas culpas. Eu disse: Confessarei as minhas transgressões ao SENHOR e tu perdoaste a culpa do meu pecado – Sl 32.3 a 5

Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue. Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me. Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe – Sl 51.3 a 5

Assumir a culpa é assinar embaixo na condenação. A confissão significa que o culpado reconhece a legitimidade da lei que o condena e aceita como legítimo o tribunal onde está sendo julgado. Confessar é dizer o mesmo que. Ao confessar reconheço que errei ao fazer o que fiz.

Não admitir que tem (piolhos) culpas não é suficiente para nos livrar do incômodo causado pela culpa (piolhos).

A solução para culpa não pode ser apenas a confissão. Sofrer a pena decorrente da culpa é algo que queremos evitar a todo custo.

Então…

Para resolver o problema da culpa Deus instituiu o sistema sacrificial. Um animal assumia o lugar no culpado sofrendo as penas decorrentes da culpa. Se trouxer uma ovelha como oferta pelo pecado, terá que ser sem defeito. O sacerdote porá a mão sobre a cabeça do animal, que será morto como oferta pelo pecado no lugar onde é sacrificado o holocausto – Lv 4.32 e 33.

Então colocará as duas mãos sobre a cabeça do bode vivo e confessará todas as iniquidades e rebeliões dos israelitas, todos os seus pecados, e os porá sobre a cabeça do bode. Em seguida enviará o bode para o deserto aos cuidados de um homem designado para isso – Lv 16.21

O ensino do Novo Testamento é a consumação do ensino do Antigo Testamento. O que o cordeiro, o novilho e o bode faziam no sistema sacrifical judaico Jesus fez, de forma plena e definitiva, na cruz. Ele levou sobre si a penalidade da nossa culpa.

Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados – Is 53.5

No dia seguinte João viu Jesus aproximando-se e disse: “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! – Jo 1.29

Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz, e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz – Cl 2.13b a 15

A solução para culpa passa pela confissão, mas depende do sacrifício de Cristo e da aceitação de Deus.

Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça – 1Jo 1.9

Ora, se o sangue de bodes e touros e as cinzas de uma novilha espalhadas sobre os que estão cerimonialmente impuros os santificam, de forma que se tornam exteriormente puros, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu de forma imaculada a Deus, purificará a nossa consciência de atos que levam à morte, para que sirvamos ao Deus vivo! – Hb 9.13 e 14

Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada, e tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel – Hb 10.22 e 23

 

CONCLUSÃO:

  • A culpa é do culpado enquanto ele não admite que é culpado e não confia na eficácia do sacrifício de Cristo para remover dele toda culpa de seu pecado.
  • Uma vez confessado o pecado, a culpa decorrente deixa de ser do culpado e passa a ser do substituto.
  • Jesus, o nosso substituto já pagou por nossos pecados na cruz.
  • Ao confessar e crer deixamos a culpa com Jesus.

Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus – Rm 8.1

Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo – 1Jo 2.1b e 2

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