Disposição para sair e avançar

Ao comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão. Comam apressadamente. Esta é a Páscoa do Senhor – Êx 12.11

INTRODUÇÃO:

O verso acima está num contexto singular. Moisés convocou a comunidade de Israel e lhes fez um importante comunicado:

… no décimo dia deste mês todo homem deverá separar um cordeiro ou um cabrito, para a sua família, um para cada casa. Se uma família for pequena demais para um animal inteiro, deve dividi-lo com seu vizinho mais próximo, conforme o número de pessoas e conforme o que cada um puder comer. O animal escolhido será macho de um ano, sem defeito, e pode ser cordeiro ou cabrito. Guardem-no até o décimo quarto dia do mês, quando toda a comunidade de Israel irá sacrificá-lo, ao pôr-do-sol. Passem, então, um pouco do sangue nas laterais e nas vigas superiores das portas das casas nas quais vocês comerão o animal. Naquela mesma noite comerão a carne assada no fogo, juntamente com ervas amargas e pão sem fermento. Não comam a carne crua, nem cozida em água, mas assada no fogo: cabeça, pernas e vísceras. Não deixem sobrar nada até pela manhã; caso isso aconteça, queimem o que restar – Êx 12.3b a 10

Era o anúncio da Páscoa, a mais importante celebração do calendário religioso da nação. Nesse dia eles deixaram o Egito rumo à Terra Prometida por Deus a Abraão, Isaque e Jacó.

  1. DEPOIS DE 430 ANOS

Ora, o período que os israelitas viveram no Egito foi de quatrocentos e trinta anos. No dia quando se completaram os quatrocentos e trinta anos, todos os exércitos do Senhor saíram do Egito – Êx 12.40 e 41

Alguns intérpretes acham que os 430 anos aqui mencionados se referem ao tempo decorrido desde a saída de Abraão de Ur dos Caldeus até o momento em que o povo de Israel saiu do Egito sob o comando de Moisés.

Se assim for termos cerca de 230 anos de peregrinação entre Ur e Hebrom – Abraão, Isaque e Jacó – e mais cerca de 200 anos de permanência co povo hebreu no Egito. Nem todo esse tempo eles foram escravos.

Então subiu ao trono do Egito um novo rei, que nada sabia sobre José.  Disse ele ao seu povo: “Vejam! O povo israelita é agora numeroso e mais forte que nós. Temos de agir com astúcia, para que não se tornem ainda mais numerosos e, no caso de guerra, aliem-se aos nossos inimigos, lutem contra nós e fujam do país”. Estabeleceram, pois, sobre eles chefes de trabalhos forçados, para os oprimir com tarefas pesadas. E assim os israelitas construíram para o faraó as cidades-celeiros de Pitom e Ramessés – Êx 1.8 e 11

Não importando se foram 430 anos, 200 anos ou algo menos que isso, o que importa é que eles ficaram escravizados no Egito. Faraó e seu povo os oprimiram severamente:

Tornaram-lhes a vida amarga, impondo-lhes a árdua tarefa de preparar o barro e fazer tijolos, e executar todo tipo de trabalho agrícola; em tudo os egípcios os sujeitavam a cruel escravidão – Êx 1.14

Dessa escravidão eles tinham amargas lembranças:

Disse o Senhor: De fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egito, e também tenho escutado o seu clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo. Por isso desci para livrá-lo das mãos dos egípcios e tirá-los daqui para uma terra boa e vasta, onde manam leite e mel: a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus. Pois agora o clamor dos israelitas chegou a mim, e tenho visto como os egípcios os oprimem – Êx 3.7 a 9

Havia em cada israelita uma ânsia por libertação. Eles eram um povo escravizado, oprimido, sem direito a nada.

Deus enviou Moisés para libertá-los dessa situação angustiante e desumana. Faraó resistiu às ordens de Deus para libertar seu povo – Êxodo 5 a 11. Depois de 9 pragas enviadas por Deus contra Faraó e seu povo Moisés anunciou a décima praga:

Disse, pois, Moisés ao faraó: “Assim diz o Senhor: ‘Por volta da meia-noite, passarei por todo o Egito. Todos os primogênitos do Egito morrerão, desde o filho mais velho do faraó, herdeiro do trono, até o filho mais velho da escrava que trabalha no moinho, e também todas as primeiras crias do gado. Haverá grande pranto em todo o Egito, como nunca houve antes nem jamais haverá – Êx 11.4 a 6

Na mesma noite em que o juízo divino sobrevinha aos egípcios os israelitas celebravam a Páscoa em seus lares:

Naquela mesma noite comerão a carne assada no fogo, juntamente com ervas amargas e pão sem fermento. Não comam a carne crua, nem cozida em água, mas assada no fogo: cabeça, pernas e vísceras. Não deixem sobrar nada até pela manhã; caso isso aconteça, queimem o que restar. Ao comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão. Comam apressadamente. Esta é a Páscoa do Senhor. Naquela mesma noite passarei pelo Egito e matarei todos os primogênitos, tanto dos homens como dos animais, e executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor! – Êx 12.8 a 12

O momento exigia mobilização, prontidão, disposição e disponibilidade.

Todo pai de família deveria matar um cordeiro e aspergir seu sangue nos laterais e vigas superiores da portas de sua casa:

Digam a toda a comunidade de Israel que no décimo dia deste mês todo homem deverá separar um cordeiro ou um cabrito, para a sua família, um para cada casa. Se uma família for pequena demais para um animal inteiro, deve dividi-lo com seu vizinho mais próximo, conforme o número de pessoas e conforme o que cada um puder comer. O animal escolhido será macho de um ano, sem defeito, e pode ser cordeiro ou cabrito. Guardem-no até o décimo quarto dia do mês, quando toda a comunidade de Israel irá sacrificá-lo, ao pôr-do-sol. Passem, então, um pouco do sangue nas laterais e nas vigas superiores das portas das casas nas quais vocês comerão o animal. Naquela mesma noite comerão a carne assada no fogo, juntamente com ervas amargas e pão sem fermento. Não comam a carne crua, nem cozida em água, mas assada no fogo: cabeça, pernas e vísceras. Não deixem sobrar nada até pela manhã; caso isso aconteça, queimem o que restar – Êx 12.3 a 10

A celebração da Páscoa é marcadamente um evento familiar. Essa primeira demandava uma atitude singular:

Ao comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão. Comam apressadamente. Esta é a Páscoa do Senhor – Êx 12.11

Assim pois o comereis(11). Isso se aplica somente à Páscoa realizada no Egito, e não às celebrações subsequentes; todavia, os redimidos sempre devem ser como aqueles que não têm habitação permanente neste mundo. (Ver Lv 23.4-5; Nm 28.16-25 quanto às celebrações da Páscoa no deserto: e ver Dt 16.1-8, que reafirma as regras, em vista de sua observância na terra prometida).

Os vossos lombos cingidos(11). Amarrando de encontro ao corpo suas longas vestimentas soltas.

Apressadamente(11). Como prontos para atender a qualquer momento a chamada para a partida. (Comentário Bíblico Davidson)

Prontidão, disposição e disponibilidade para sair imediatamente e iniciar uma jornada, a jornada da libertação rumo à terra prometida.

A salvação foi provida por Deus, mas cabia a cada pai de família prover para si um cordeiro, imolá-lo e aplicar o sangue nas laterais das portas de sua casa. Além disso, deveriam manter toda a família atenta, de prontidão para saírem naquela mesma noite do Egito para nunca mais voltarem.

Fica difícil imaginar um pai de família que tenha sido negligente neste momento da história dos hebreus.

Todos os israelitas, do maior ao menor deles, queriam sair do Egito. A situação de opressão era tamanha que nenhum israelita, por mais ignorante que fosse iria optar por ficar no Egito. Até quem não era israelita, mas estava escravizado no Egito aproveitou a oportunidade e saiu do Egito – Êx 12.38.

  1. O DIA DA LIBERTAÇÃO

Enfim havia chegado o dia da libertação. O que eles ansiaram por anos estava acontecendo diante de seus olhos:

Então, à meia-noite, o Senhor matou todos os primogênitos do Egito, desde o filho mais velho do faraó, herdeiro do trono, até o filho mais velho do prisioneiro que estava no calabouço, e também todas as primeiras crias do gado. No meio da noite o faraó, todos os seus conselheiros e todos os egípcios se levantaram. E houve grande pranto no Egito, pois não havia casa que não houvesse um morto. Naquela mesma noite o faraó mandou chamar Moisés e Arão e lhes disse: “Saiam imediatamente do meio do meu povo, vocês e os israelitas! Vão prestar culto ao Senhor, como vocês pediram. Levem os seus rebanhos, como tinham dito, e abençoem a mim também” – Êx 12.29 a 32

A ordem de Faraó era objetiva e direta: “Saiam imediatamente do meio do meu povo”. E os israelitas tiveram prazer em obedecer essa derradeira ordem de Faraó:

Os israelitas foram de Ramessés até Sucote. Havia cerca de seiscentos mil homens a pé, além de mulheres e crianças. Grande multidão de estrangeiros de todo tipo seguiu com eles, além de grandes rebanhos, tanto de bois como de ovelhas e cabras. […] No dia quando se completaram os quatrocentos e trinta anos, todos os exércitos do Senhor saíram do Egito. […] No mesmo dia o Senhor tirou os israelitas do Egito, organizados segundo as suas divisões  – Êx 12.37, 38, 41 e 51

  1. LIBERTAÇÃO FÍSICA

Esse momento histórico era a efetivação da libertação física do povo de Israel. Deus havia tirado seu povo do Egito com mão poderosa:

Então disse Moisés ao povo: “Comemorem esse dia em que vocês saíram do Egito, da terra da escravidão, porque o Senhor os tirou dali com mão poderosa – Êx 13.3a

A cada celebração anual da Páscoa eles relembravam esse fato:

Cumpra esta determinação na época certa, de ano em ano. “Depois que o Senhor os fizer entrar na terra dos cananeus e entregá-la a vocês, como jurou a vocês e aos seus antepassados, separem para o Senhor o primeiro nascido de todo ventre. […]No futuro, quando os seus filhos lhes perguntarem: ‘Que significa isto?’, digam-lhes: Com mão poderosa o Senhor nos tirou do Egito, da terra da escravidão. […] “Isto será como sinal em sua mão e marca em sua testa de que o Senhor nos tirou do Egito com mão poderosa” – Êx 13.10 a 16

Os israelitas jamais deveriam se esquecer desse dia memorável:

Observem o mês de abibe e celebrem a Páscoa do Senhor, do seu Deus, pois no mês de abibe, de noite, ele os tirou do Egito. Ofereçam como sacrifício da Páscoa ao Senhor, ao seu Deus, um animal dos rebanhos de bois ou de ovelhas no local que o Senhor escolher para habitação do seu Nome. Não o comam com pão fermentado, mas durante sete dias comam pães sem fermento, o pão da aflição, pois foi às pressas que vocês saíram do Egito, para que todos os dias da sua vida vocês se lembrem da época em que saíram do Egito – Dt 16.1 a 3

Todos os anos, no mês de abibe, no décimo quarto dia, todos os israelitas deveriam celebrar a libertação do Egito. Esse era um estatuto perpétuo para Israel.

Este dia será um memorial que vocês e todos os seus descendentes o comemorarão como festa ao Senhor. Comemorem-no como decreto perpétuo – Êx 12.14

A libertação física estava consumada. Apesar de Faraó tentar recuperar os escravos, seu exército ficou afundado no Mar Vermelho – Êx 14.

Deus cumpriu sua promessa deita a Abraão:

Então o Senhor lhe disse: “Saiba que os seus descendentes serão estrangeiros numa terra que não lhes pertencerá, onde também serão escravizados e oprimidos por quatrocentos anos.Mas eu castigarei a nação a quem servirão como escravos e, depois de tudo, sairão com muitos bens. […] Na quarta geração, os seus descendentes voltarão para cá, porque a maldade dos amorreus ainda não atingiu a medida completa – Gn 15.13 a 16

 

  1. LIBERTAÇÃO MENTAL

Uma vez libertos da escravidão física, o povo precisava ser liberto da escravidão mental. Não bastava tirá-los do Egito, Deus precisava tirar o Egito de dentro deles.

Esse processo foi doloroso e acabou resultando na morte de todos os homens e mulheres que saíram do Egito naquela noite. Dos “seiscentos mil homens” que saíram do Egito apenas dois deles chegaram à terra prometida.

O povo israelita teve disposição para sair do Egito mas se mostrou indisposto a avançar ruma à Terra Prometida. No deserto eles revelaram um caráter obscuro e frouxo.

Deus, em função da rebelião do povo em Cades -Nm 13 – disse ao povo:

Nenhum de vocês entrará na terra que, com mão levantada, jurei dar-lhes para sua habitação, exceto Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num – Nm 14.30

Moisés fez um recenseamento no deserto antes de entrarem na Terra Prometida. No final do relatório ele fez uma observação:

Nenhum deles estava entre os que foram contados por Moisés e pelo sacerdote Arão quando contaram os israelitas no deserto do Sinai. Pois o Senhor tinha dito àqueles israelitas que iriam morrer no deserto, e nenhum deles sobreviveu, exceto Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num – Nm 26.64 e 65

Fazendo um discurso memorativo ao povo Moisés declarou:

A ira do Senhor se acendeu naquele dia, e ele fez este juramento: ‘Como não me seguiram de coração íntegro, nenhum dos homens de vinte anos para cima que saíram do Egito verá a terra que prometi sob juramento a Abraão, a Isaque e a Jacó, com exceção de Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, e Josué, filho de Num, seguiram ao Senhor com integridade de coração’ – Nm 32.10 a 12

Por que saíram do Egito e não entraram na Terra Prometida?

Paulo responde:

Porque não quero, irmãos, que vocês ignorem o fato de que todos os nossos antepassados estiveram sob a nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem e no mar. Todos comeram do mesmo alimento espiritual e beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam da rocha espiritual que os acompanhava, e essa rocha era Cristo. Contudo, Deus não se agradou da maioria deles; por isso os seus corpos ficaram espalhados no deserto. Essas coisas ocorreram como exemplos para nós, para que não cobicemos coisas más, como eles fizeram. Não sejam idólatras, como alguns deles foram, conforme está escrito: “O povo se assentou para comer e beber, e levantou-se para se entregar à farra”. Não pratiquemos imoralidade, como alguns deles fizeram — e num só dia morreram vinte e três mil. Não devemos pôr o Senhor à prova, como alguns deles fizeram — e foram mortos por serpentes. E não se queixem, como alguns deles se queixaram — e foram mortos pelo anjo destruidor – 1Co 10.1 a 10

A geração que saiu do Egito fracassou em seu objetivo de entrar na Terra Prometida. Moisés os tirou do Egito, mas pereceu com eles no deserto.

Paulo enumera 5 razões porque “Deus não se agradou da maioria deles” e “seus corpos ficaram espalhados no deserto”:

  1. Cobiçaram coisas más
  2. Foram idólatras
  3. Praticaram imoralidade
  4. Colocaram Deus à prova
  5. Murmuraram

Paulo encerra sua exortação aplicando a nós o exemplo dos israelitas:

Essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram escritas como advertência para nós, sobre quem tem chegado o fim dos tempos – 1Co 10.11

CONCLUSÃO:

Deus não nos tirou do Egito, ele nos tirou do império das trevas:

Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados – Cl 1.13 e 14

Depois de tirar-nos do império das trevas ele deseja tirar as trevas de nós. Para que isso aconteça deve haver em nós a mesma disposição que houve em Josué e Calebe, a disposição para sair e avançar.

Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus – Hb 12.1 e 2

Deus espera de nós disposição para sair da escravidão prosseguir rumo ao que Deus deseja para nós. O que Deus deseja para nós é que sejamos santos como ele é santo:

Portanto, estejam com a mente preparada, prontos para a ação; sejam sóbrios e coloquem toda a esperança na graça que lhes será dada quando Jesus Cristo for revelado. Como filhos obedientes, não se deixem amoldar pelos maus desejos de outrora, quando viviam na ignorância. Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: “Sejam santos, porque eu sou santo” – 1Pe 1.13 a 16

Nossa Terra prometida é uma vida de santidade:

Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor – Hb 12.14 (ARA)

 

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