Estevão – servo e mártir

Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento. Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: “Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra”. Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau, um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia. Apresentaram esses homens aos apóstolos, os quais oraram e lhes impuseram as mãos. Assim, a palavra de Deus se espalhava. Crescia rapidamente o número de discípulos em Jerusalém; também um grande número de sacerdotes obedecia à fé – Atos 6.1 a 7 […] Ouvindo isso, ficavam furiosos e rangiam os dentes contra ele. Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus de pé, à direita de Deus, e disse: “Vejo o céu aberto e o Filho do homem de pé, à direita de Deus”. Mas eles taparam os ouvidos e, gritando bem alto, lançaram-se todos juntos contra ele, arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo. Enquanto apedrejavam Estêvão, este orava: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito”. Então caiu de joelhos e bradou: “Senhor, não os consideres culpados deste pecado”. E, dizendo isso, adormeceu – Atos 7.54 a 60

 

INTRODUÇÃO

Personalidades do livro de Atos.

  • Barnabé – Um Homem de Fé e Esperança
  • Estevão – Servo e Mártir

Nosso enfoque será naqueles que não eram apóstolos, mas que foram figuras importantes na Igreja Primitiva.

Nosso intuito é confrontar nossa forma de seguir a Cristo com a forma como eles seguiram a Cristo. O testemunho deles deve ser visto como um paradigma de como seguir a Cristo como Cristo quer ser seguido.

O que podemos aprender da vida de Estevão?

Que lições podemos tirar para servir de fundamento para a nossa caminhada cristã?

Estevão foi:

  1. Um líder
  2. Um servo
  3. Uma testemunha
  4. O primeiro mártir
  5. Um imitador de Cristo em sua vida e morte

 

 

  • LIDERANÇA – CARÁTER, CARISMA E COMPETÊNCIA

Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: “Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra”. Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau, um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia – At 6.2 a 5

 

A igreja primitiva estava crescendo. No princípio eram 12 discípulos, depois 70, 120 e por fim 500. Depois de Pentecostes eram cerca de 3.000; depois da cura do paralítico o número subiu para cerca de 5.000:

Mas, muitos dos que tinham ouvido a mensagem creram, chegando o número dos homens que creram a perto de cinco mil – At 4.4

 

  • Igreja, comunidade de pessoas imperfeitas que aspiram a perfeição

Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento – At 6.1

 

  • A multiforme graça de Deus

Deus dispôs na igreja pessoas e as equipou com vários dons. Esses dons devem ser usados para a edificação mútua – Rm 12 e Ef 4.

Pedro exorta a igreja:

Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas. Se alguém fala, faça-o como quem transmite a palavra de Deus. Se alguém serve, faça-o com a força que Deus provê, de forma que em todas as coisas Deus seja glorificado mediante Jesus Cristo, a quem sejam a glória e o poder para todo o sempre. Amém – 1Pe 4.10 e 11

 

  • Os 3 “Cs” da liderança cristãCaráter – Bom testemunho

O diácono deve ter boa reputação, isto é, a igreja, bem como as pessoas de fora, devem dar bom testemunho a respeito do candidato ao ofício diaconal.

 Carisma – Cheios do Espírito

O diácono também deve ter uma vida espiritual expressiva. Uma pessoa, cuja vida espiritual seja cheia de altos e baixos, oscilante e insegura, cheia de dúvidas e falhas morais não deve ser candidata a este ofício. A maturidade espiritual é um elemento essencial. O diácono, devido ao ofício que exerce, deve possuir uma solidez espiritual análoga à solidez necessária para o candidato ao ofício pastoral.

  Competência – Cheios de sabedoria

O diácono irá lidar com recursos e pessoas, ambos exigem prudência e tato. O diácono deverá ter uma mente arguta para detectar indivíduos mal-intencionados e saber negar o auxílio a quem não necessite a fim de auxiliar quem de fato necessite. Questões de ordem administrativa também exigirão redobrada prudência por parte dos diáconos.

Em termos gerais as exigências ao ministério diaconal – como relacionadas em At 6.3 e 1Tm 3.8 a 13 – envolvem integridade, piedade e verdade:

  • Integridade – “…que aborreçam a avareza…”

A integridade fala de inteireza de ser. Com isso quero dizer que o diácono deve possuir uma excelência de caráter que o torne impassível de acusações que se comprovem verdadeiras. A integridade abrange o interior além do exterior. Exteriormente alguém pode deixar entender que é santo, todavia ainda possuir maus desígnios em seu coração. O diácono deve ser honesto nos seus atos e intenções. A pureza de motivações deve estar presente na pessoa e no ofício do diácono.

Estevão era um líder, um líder-servo:

Então Jesus os reuniu e disse: “Vocês sabem que os que são considerados líderes neste mundo têm poder sobre o povo, e que os oficiais exercem sua autoridade sobre os súditos. Entre vocês, porém, será diferente. Quem quiser ser o líder entre vocês, que seja servo, e quem quiser ser o primeiro entre vocês, que se torne escravo de todos. Pois nem mesmo o Filho do Homem veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos”. – Mc 10.42 a 45 (NVT)

 

  • Piedade – “…tementes a Deus…”

A vida piedosa implica em alguns exercícios espirituais. A vida piedosa do diácono deve ser expressiva, mais abundante do que a dos demais membros da igreja. Sua vida piedosa deve ser notoriamente digna de ser imitada.

  • Veracidade – “…homens de verdade…”

A verdade deve estar presente na vida e nos lábios do diácono. Uma vida irrepreensível, sem hipocrisias ou meias verdades. Um homem honesto no falar e no proceder. Sua língua deve adornar seu testemunho diante da igreja e dos de fora.

 

  • SERVIÇO ABNEGADO

Todos somos chamados a servir:

Num sentido geral todos nós somos chamados diáconos – Jo 12.26 – A Bíblia nos designa como servos (diakonos) de Deus. Jesus não somente assumiu esta figura – Rm 15.8, como também ordenou que todos nós sirvamos da mesma forma – Mc 9.35. Paulo deixou claro que nossa diaconia é algo natural em nossa relação com o Senhor: Em 1Ts 3.2, Timóteo é chamado de ministro – diakonos – de Deus. Em 1Co 3.5, Paulo se autoentitula diácono e designa Apolo pelo mesmo termo. E ainda 2Co 6.4, 11.23; Cl 1.7 e 4.7; 1Tm 4.6.

 

  • O serviço dos apóstolos

Os apóstolos identificaram como missão apostólica o ministério da palavra de Deus e a oração:

Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra – At 6.2 a 4

 

  • Diaconia

O termo grego “diakonos”, segundo Trench, provém do verbo “dióko” – lit. apressar-se, seguir, correr; e traz a ideia do servo em sua atividade, seja escravo ou livre. Numa visão mais restrita do termo, segundo Low e Nida, “diakonos” é alguém que serve como diácono, com responsabilidade de cuidar das necessidades dos crentes, alguém que ajuda os crentes. Taylor crê que o termo “diakonos” seja o derivado de “diakonia” que significa distribuição de comida; socorro; serviço; ministério; administração; ministração. Assim, “diakonos”, é um servo ou serva, administrador, um ministro. Na opinião de Gingrich, o diácono é um agente (Rm 13.4 e Gl 2.17); um auxiliar; uma pessoa que presta serviço como cristão (Mt 20.26, 22.13, Mc 9.35 e Jo 2.5 e 9); um auxiliador; um apoiador.

A ênfase do serviço diaconal, segundo Gingrich, reside no campo doméstico (Lc 10.40); mas pode ainda ser expandido para outras áreas do serviço humano – At 1.7; 20.24; Rm 12.7; 1Co 12.5; 2Co 15.18. Segundo Thayer, diácono é quem executa ordens de outrem, especialmente de um senhor, é um servo, um atendente, um ministro. Mais comumente, diácono tem sido o título-função conferido a alguém que, em virtude do ofício que lhe é destinado na igreja, cuida dos pobres e tem responsabilidade da guarda e distribuição dos recursos levantados para este uso.

  • Resultado da combinação do ministério apostólico e diaconal:

Assim, a palavra de Deus se espalhava. Crescia rapidamente o número de discípulos em Jerusalém; também um grande número de sacerdotes obedecia à fé – Atos 6.7

 

  • TESTEMUNHO CONSISTENTE

O testemunho de Estevão era irresistível:

Estêvão, homem cheio da graça e do poder de Deus, realizava grandes maravilhas e sinais entre o povo. Contudo, levantou-se oposição dos membros da chamada Sinagoga dos Libertos, dos judeus de Cirene e de Alexandria, bem como das províncias da Cilícia e da Ásia. Esses homens começaram a discutir com Estêvão, mas não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava – At 6.8 a 10

 

Jesus havia prometido:

Antes, porém, de todas estas coisas, lançarão mão de vós e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome; e isto vos acontecerá para que deis testemunho. Assentai, pois, em vosso coração de não vos preocupardes com o que haveis de responder; porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem – Lc 21.12 a 15

  • Testemunhar

No grego clássico o substantivo feminino martyria significa fazer declarações como testemunha (martyr), sendo que a forma mais antiga do substantivo básico é martyros em Homero, e depois, o eólico posterior, martyr; martyria, que denota a confirmação de um fato ou evento, e é atestado a partir de Hom. (Od. 11, 325).  […] Seu conteúdo léxico pode ser mais exatamente definido como lembrança refletiva e interrogativa, “relembrar”, isto é, “chamar para a consciência” alguma coisa que alguém experimentou que não pode ser negligenciada ou esquecida, e que agora, neste sentido, é trazida à atenção de outras pessoas, a fim de transmitir a estas, por meio de declarações apropriadas, o conteúdo desta experiência: aquilo que foi experimentado ficará sendo evidente mediante o testemunho (Platão, Symp. 179b). (p. 2503) No NT O grupo de palavras adquiriu pela primeira vez sua importância específica na teologia bíblica no NT, mais precisamente, em Atos e na literatura joanina. Até mesmo um levantamento estatístico das ocorrências exibe estas ênfases, tarte, das 76 ocorrências do verbo martyreō, 43 acham-se em João e nas Epístolas João, e mais 4 em Ap, 11 em At e 8 em Hb, ao passo que apenas 6 aparecem em e apenas 2 nos Sinóticos. Das 37 ocorrências de martyria (21 pertencem a João e às Epístolas Joaninas, e 9 ao Apocalipse, ao passo que a palavra falta totalmente em Paulo e Hebreus. Com 35 ocorrências, o substantivo martys é achado em um total vezes em Atos, 9 em Paulo (inclusive 3 nas Epístolas Pastorais) e 5 vezes no Apocalipse. […] Finalmente, entre os 15 casos em que diamartyreō é usado, 9 se acham em Atos onde o verbo é usado como expressão especial para a proclamação do Evangelho conforme também ocorre em 1Ts 4:6, e 3 vezes em 1Tm 5.1 e 2Tm 2.14; 4.1. (Cohen & Brown, DITNT, Vol. 2, p. 2503-2508)

  • Deus agiu fora de Jerusalém e antes da edificação do Templo

Estevão inicialmente foi acusado de “falar palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus”, em seguida foi acusado de “falar contra esse lugar e contra a lei”. Esse lugar deve ser uma referência a Jerusalém e ao Templo.

Estêvão, homem cheio da graça e do poder de Deus, realizava grandes maravilhas e sinais entre o povo. Contudo, levantou-se oposição dos membros da chamada Sinagoga dos Libertos, dos judeus de Cirene e de Alexandria, bem como das províncias da Cilícia e da Ásia. Esses homens começaram a discutir com Estêvão, mas não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava. Então subornaram alguns homens para dizerem: “Ouvimos Estêvão falar palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus”. Com isso agitaram o povo, os líderes religiosos e os mestres da lei. E, prendendo Estêvão, levaram-no ao Sinédrio. Ali apresentaram falsas testemunhas que diziam: “Este homem não para de falar contra este lugar santo e contra a lei. Pois o ouvimos dizer que esse Jesus, o Nazareno, destruirá este lugar e mudará os costumes que Moisés nos legou” – At 6.8 a 14

O relato de Lucas é um resumo do testemunho dado por Estevão. Em síntese Estevão estava argumentando contra os da Sinagoga dos Libertos que Deus não estava limitado em seu agir. Deus chamou Abraão – na Mesopotâmia – versos 2 a 4 – seus descendentes foram para o Egito – versos 11 a 28 – Deus apareceu a Moisés no monte Horebe – versos 30 a 36 – Israel peregrinou no deserto – versos 37 a 46. O templo, construído muito tempo depois não é a “casa de Deus” – versos 48 a 50.

Depois de mostrar a eles que Deus agiu fora de Jerusalém e além do Templo Estevão faz uma dura advertência a seus ouvintes:

“Povo rebelde, obstinado de coração e de ouvidos! Vocês são iguais aos seus antepassados: sempre resistem ao Espírito Santo! Qual dos profetas os seus antepassados não perseguiram? Eles mataram aqueles que prediziam a vinda do Justo, de quem agora vocês se tornaram traidores e assassinos — vocês, que receberam a Lei por intermédio de anjos, mas não lhe obedeceram” – At 7:51 a 53

  • A importância de conhecer as Escrituras

Hoje, uma das grandes questões no meio evangélico brasileiro é o “analfabetismo bíblico”.

A Crise do Analfabetismo Bíblico – por Armando Taranto Neto

O termo “Analfabetismo Bíblico” está diretamente relacionado ao desconhecimento das Santas Escrituras, não à capacidade intelectual do indivíduo. Analfabetismo Bíblico também deve ser considerado a falta de experiência, interpretação e uma vida de acordo com os Santos ensinos. Bem como seu crescimento em conhecimento e graça diante do Senhor, como disse o apóstolo Pedro em 2 Pedro 3.18. […] Nunca tivemos na língua portuguesa tantas opções de versões Bíblicas, mas o resultado disto se torna inversamente proporcional àqueles que procuram se aprofundar e se esmerar no conhecimento das Sagradas letras. Destacando-se as devidas exceções, e graças a Deus por elas, uma grande parte dos crentes demonstram desconhecimento das questões basilares da Bíblia. Muitos a respeitam, outros usam-na como amuletos dentro de carros, em cima de uma mesa em casa, aberta em algum capítulo que atribuem significado místico, e há aqueles que até a reverenciam, mas não a leem. […] Podemos citar também a negligência por parte de algumas lideranças com respeito ao ensino Bíblico. Estão substituindo as Escolas Bíblicas, cultos de doutrina e exposição das Santas Escrituras por aquilo que “funciona”, as igrejas estão se transformando em pragmáticos (aquilo que funciona, que dá resultado) centros de entretenimento. O tempo principal, de primazia, que deveria ser da Palavra, está sendo substituído por “novas estratégias” que enchem os templos: músicas, teatros, danças, capoeira, discoteca gospel, MMA (é o fim!), etc. Estes líderes devem entender que templo cheio não é sinônimo de aprovação de Deus. Existem muitos ministérios que estão inchados, e inchaço não significa saúde, e sim doença. […] Tudo no culto deve ser dirigido pela Palavra de Deus, o Deus Trino deve assumir a centralidade de nossa adoração e de nossas reuniões.

Fonte: https://www.gospelprime.com.br/crise-do-analfabetismo-biblico/

 

 

  • MARTÍRIO

O testemunho de Estevão, bem como sua severa advertência, produziu fúria entre os que contendiam com ele:

Ouvindo isso, ficavam furiosos e rangiam os dentes contra ele. Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus de pé, à direita de Deus, e disse: “Vejo o céu aberto e o Filho do homem de pé, à direita de Deus”. Mas eles taparam os ouvidos e, gritando bem alto, lançaram-se todos juntos contra ele, arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo – At 7.54 a 58

 

Estevão foi o primeiro mártir da fé cristã. Ele inaugurou um período da história denominado por Justo Gonzalez de “Era dos Mártires”. Desde Estevão até o Edito de Milão milhares de cristãos, em todos os domínios do antigo Império Romano, foram martirizados de inúmeras formas.

Cristo, nosso Salvador, no Evangelho de são Mateus, ouvindo a confissão de Simão Pedro, o qual, antes que todos os outros, reconheceu abertamente que Ele era o Filho de Deus, e percebendo a mão providencial de seu Pai nisso, o chamou (aludindo a seu nome) de “rocha”, rocha sobre a qual edificaria Sua Igreja com tal força que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela. E com estas palavras se devem observar três coisas: primeiro, que Cristo teria uma igreja neste mundo. segundo, que a mesma Igreja sofreria uma intensa oposição, não só por parte do mundo, senão também com todas as forças e poder do inferno inteiro. E em terceiro lugar que esta mesma Igreja, apesar de todo o poder e maldade do diabo, se manteria. […] Santo Estevão foi o seguinte a padecer. Sua morte foi ocasionada pela fidelidade com a que predicou o Evangelho aos entregadores e matadores de Cristo. Foram excitados eles a tal grau de fúria, que o expulsaram fora da cidade, apedrejando-o até matá-lo. A época em que sofreu supõe-se geralmente como a Páscoa posterior à da crucifixão de nosso Senhor, e na época de Sua ascensão, na seguinte primavera. (John Fox – O Livro dos Mártires)

 

Por ocasião de seu martírio Estevão teve uma visão celestial:

Ouvindo isso, ficavam furiosos e rangiam os dentes contra ele. Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus de pé, à direita de Deus, e disse: “Vejo o céu aberto e o Filho do homem de pé, à direita de Deus – At 7.54 a 56

 

O resultado da morte de Estevão foi duplo:

  1. Mais perseguição

Enquanto isso, Saulo ainda respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor. Dirigindo-se ao sumo sacerdote, pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, de maneira que, caso encontrasse ali homens ou mulheres que pertencessem ao Caminho, pudesse levá-los presos para Jerusalém – At 9.1 e 2

 

A continuação suscitou-se uma grande perseguição contra todos os que professavam a crença em Cristo como Messias, ou como profeta. São Lucas nos diz de imediato que “fez-se naquele dia uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém”, e que “todos foram dispersos pelas terras da Judéia e de Samaria, exceto os apóstolos” (Atos 8:1, ACF). Em volta de dois mil cristãos, incluindo Nicanor, um dos sete diáconos, padeceram o martírio durante a “tribulação suscitada por causa de Estevão” (Atos 11:9, PJFA). (John Fox – O Livro dos Mártires)

 

  1. Crescimento da Igreja

E Saulo estava ali, consentindo na morte de Estêvão. Naquela ocasião desencadeou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém. Todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e de Samaria. Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram por ele grande lamentação. Saulo, por sua vez, devastava a igreja. Indo de casa em casa, arrastava homens e mulheres e os lançava na prisão. Os que haviam sido dispersos pregavam a palavra por onde quer que fossem – At 8.1 a 4

 

Os que tinham sido dispersos por causa da perseguição desencadeada com a morte de Estêvão chegaram até à Fenícia, Chipre e Antioquia, anunciando a mensagem apenas aos judeus. Alguns deles, todavia, cipriotas e cireneus, foram a Antioquia e começaram a falar também aos gregos, contando-lhes as boas novas a respeito do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles, e muitos creram e se converteram ao Senhor – At 11.19 a 21

 

  • IMITAÇÃO A CRISTO

Estevão imita a Cristo em dois aspectos:

  1. Entrega seu espírito a Deus:

Jesus

Jesus bradou em alta voz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Tendo dito isso, expirou – Lc 23.46

Tendo-o provado, Jesus disse: “Está consumado!” Com isso, curvou a cabeça e entregou o espírito – Jo 19.30

 

Estevão

 

Enquanto apedrejavam Estêvão, este orava: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito – At 7.59

 

  1. Perdoa seus executores:

Jesus

Quando chegaram ao lugar chamado Caveira, ali o crucificaram com os criminosos, um à sua direita e o outro à sua esquerda. Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” – Lc 23.33 e 34

 

Estevão

Então caiu de joelhos e bradou: “Senhor, não os consideres culpados deste pecado”. E, dizendo isso, adormeceu – At 7.60

 

Larry Christenson em seu livro A Mente Renovada, no capítulo a respeito do Perdão Unilateral afirma que tanto Jesus como Estevão, em seus últimos momentos de vida, nos ensinam a perdoar sem que nossos ofensores nos solicitem o perdão.

Pelo   que   sabemos   através   da   Bíblia, ninguém   jamais  chegou  a  Jesus  e  lhe  pediu  perdão.   Fala-se   muito nesse assunto,  porém,  Jesus,  que  é  a  própria  origem  dessa  graça,  nunca  ouviu,  de  quem  quer  que  fosse,  uma  palavra  assim:  “Senhor,  perdoa-me!”  Todavia, ele perdoou a muitos, e fê-lo de forma  especial  —  outorgou  perdão  unilateral.  Unilateral   significa de um lado, de uma parte.  Portanto, o perdão unilateral existe  apenas  para  uma  das partes;  é o perdão concedido pelo ofendido sem intervenção  do  ofensor.  É perdão não  solicitado  pelo  ofensor,  que  às  vezes  nem  sabe  que  precisa  dele.  A parte  ofendida  toma  a  iniciativa  do  gesto,  e  indulta  a  quem  o  ofendeu,  sem  esperar  que  o  outro  lhe  peça  isso.

 

Sobre Estevão ele afirma:

 

Na morte de Estêvão, o primeiro mártir do cristianismo, vemos que ele concedeu perdão unilateral aos seus algozes.  “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé à destra de Deus…  Senhor, não lhes imputes este pecado.”  O livro de Hebreus nos informa de que  Jesus  assentou-se  à  mão  direita  de  Deus  (1.3).  No entanto, quando Estêvão o viu, ele estava  de  pé.  David du Plessis explica o fato da seguinte maneira:  “Jesus se ergueu para honrar Estêvão e sua palavra de perdão — perdão unilateral.”  Imaginemos o Senhor, de pé, olhando pelas janelas do céu, e dizendo:  “A quem é que  meu  servo  está  perdoando?  Preciso ver quem é esse homem e olhar por ele.”  E o fez.  Ele distinguiu o próprio chefe do bando, Saulo de Tarso.  Foi ao seu encontro na estrada de Damasco e o salvou.  Isso aconteceu por causa do perdão, unilateral de   Estêvão,  que   proporcionou   a   Saulo   um   encontro   com   Cristo.   E   que   encontro!   Quantas bênçãos resultaram dele!  Esse poder   Jesus   outorgou à Igreja.

 

O exemplo de Corrie Tem Boom

Corrie   Ten   Boom, que esteve aprisionada num campo de concentração dos alemães, durante a Segunda Guerra.  Dez anos depois de tudo o que sofreu, ela se encontrou frente a frente   com uma ex-enfermeira do alojamento onde ela e sua irmã Betsie  haviam  estado.  A irmã estivera muito doente, e sofrera brutalidades daquela mulher.  A própria Corrie quem   nos conta:   “No   momento  em  que  a  reconheci,  o  ódio  penetrou  em  meu  coração.  Eu pensara haver superado tal  sentimento, mas agora, ao contemplar aquela  pessoa,  após  todos  aqueles  anos,  senti  grande  amargura  no  coração.  Envergonhada, confessei  minha  falta  ao  Senhor,  e orei:  “Perdoa-me,  Senhor Jesus,  esse  ódio.  Ensina-me amar meus inimigos.”  E ela continua seu relato dizendo que orou pela mulher.  Por fim, telefonou convidando-a para um culto.  E conclui:  “Ela veio à reunião, e ficou o tempo todo ouvindo atentamente, e fitando-me nos olhos.  Percebi   que   ela   escutou   com   o   coração.   Após   o   encerramento, abri a Bíblia e expus-lhe o plano da salvação, complementando com o verso de 1 João 4.9: “Nisto se manifestou o amor de Deus em nós, em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele.’  E ela tomou a grande decisão que causa regozijo até entre os anjos.  E não apenas o meu ódio se acabou, mas também pude levar a luz para o seu coração em trevas, tornando-me um canal para os rios de água viva.”

 

CONCLUSÃO

Através da vida de Estevão aprendemos:

  1. A importância do caráter, do carisma e da competência para a liderança cristã efetiva.
  2. Deus é glorificado e sua Igreja é edificada quando servimos de acordo com o dom que Deus nos deu.
  3. Para que nosso testemunho de fé seja proveitoso precisamos que a Palavra de Deus habite em nós ricamente – Cl 3.16
  4. O sangue dos mártires é semente da Igreja.
  5. Imitar a Cristo envolve perdoar sempre – viver e morrer perdoando.

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