Os desafios e privilégios de um “igrejado”

Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam; e que os tenhais com amor em máxima consideração, por causa do trabalho que realizam. Vivei em paz uns com os outros. Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos. Evitai que alguém retribua a outrem mal por mal; pelo contrário, segui sempre o bem entre vós e para com todos. Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não apagueis o Espírito. Não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de mal. O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará. Irmãos, orai por nós. Saudai todos os irmãos com ósculo santo. Conjuro-vos, pelo Senhor, que esta epístola seja lida a todos os irmãos. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco – 1Ts 5.12 a 28

 

INTRODUÇÃO:

Valores:

  1. Comunhão com amor e unidade respeitando as diferenças

EU CREIO NA COMUNHÃO DOS SANTOS

Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra.

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Universal; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém.

O CONTEXTO DO TEXTO

Havia em Tessalônica uma comunidade cristã. Paulo escreveu uma carta a essa comunidade a fim de orientá-los sobre como eles poderiam viver a vida cristã naquela sociedade pagã. Dentre as muitas perguntas que Paulo respondeu a eles está a forma como eles deveriam se portar na convivência com os demais irmãos.

 

O QUE É SER “IGREJADO”?

Hoje a moda é ser “desigrejado”.

  • Um “desigrejado” é uma pessoa que não faz parte ativa de uma comunidade cristã e ainda assim crê que faz parte da igreja de Cristo.
  • Todo “desigrejado” tem suas “dez mil razões” para não ir às reuniões da igreja, não participar de uma comunidade local e sobretudo não ficar em submissão a um corpo diretivo.

O “igrejado” é o inverso do “desigrejado”:

  • Um “igrejado” é alguém que, mesmo tendo “mil razões” para não fazer parte de uma igreja local, reconhece a importância de viver em comunhão com os irmãos em Cristo.
  • Um “igrejado” congrega numa comunidade local e demonstra disposição a submeter-se a um corpo diretivo para que possa crescer em graça e no conhecimento de Cristo em companhia com outros que desejam o mesmo que ele.
  • Um “igrejado” sabe que a comunidade local, ainda que imperfeita é “raça eleita, sacerdócio real, nação santa e povo de propriedade exclusiva de Deus”.
  • Um “igrejado” não se ilude com a ideia de uma igreja perfeita, mas anseia por ser assemelhado a Cristo.

 

O DESAFIO/PRIVILÉGIO DE RECONHECER-SE NO OUTRO

Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo – Pv 27.17

Quando criança eu ouvia os cultos de uma igreja pentecostal perto de casa.

Eles cantavam:

“A igreja é a olaria de Deus…”

Deus é o oleiro, nós somos o barro e a igreja é a olaria de Deus.

Na comunidade local eu posso me ver no outro.

  • O Estigma dos publicanos e gentios:

Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo? – Mt 5.46 e 47

  • A síndrome do “irmão mais velho”:

Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo. E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado – Lc 15.25 a 30

O filho mais velho não vive em comunidade. Por isso não percebe que é egoísta, avarento, insensível, acusador, desonesto e melindroso.

O sábio afirmou:

O solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria – Pv 18.1

  • A terapia de Jacó:

De Gênesis 18 a 31 temos o relato das aventuras de Jacó em Harã.

Jacó havia feito inúmeras trapaças em Hebrom. Comprou por “preço de lentilhas” o direito da primogenitura do irmão. Enganou o pai em conluio com a própria mãe. Mentiu a vida toda para safar-se. No caminho – em Luz – tentou negociar com Deus.

Em Harã ele encontrou o outro lado da moeda. Ele se viu no tio/sogro.

Para curar um trapaceiro, nada melhor do que levá-lo a conviver intensamente com outro trapaceiro mais experiente.

Para um mal radical somente uma terapia de choque.

 

O DESAFIO/PRIVILÉGIO DE SERVIR UNS AOS OUTROS

Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes: Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes – Jo 13.12 a 17

Igreja é um lugar de serviço mútuo. Não entende essa dimensão da comunidade quem a vê unicamente como um lugar a frequentar.

O espaço reservado ao culto é apenas um ponto de encontro para ações que visam o desenvolvimento das virtudes cristãs por meio dos imperativos de reciprocidade.

Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros – Jo 13.34 e 35

O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. […] Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros – Jo 15.12 e 17

Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. […] compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade; abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram. Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos – Rm 12.10 a 16

O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta –1Co 13.4 a 7

Como amar uns aos outros sendo “desigrejado”?

Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não se agradou a si mesmo… – Rm 15.1 a 3a

Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de outrem. […] Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus, assim como também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos – 1Co 10.24, 32 e 33

Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros – Fp 2.1 a 4

A vida ativa da Igreja:

Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum. Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade – At 4.32 a 35

Jesus disse que veio para servir e não para ser servido:

Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos – Mt 20.25 a 28

Paulo reforçou esse ensino de Jesus:

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz – Fp 2.5 a 8

O serviço mútuo é, em termos gerais o âmbito onde podemos lavar os pés uns aos outros:

Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo – Gl 5.13 e 14

 

O DESAFIO/PRIVILÉGIO DE CRESCER JUNTOS

E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor – Ef 4.11 a 16

A edificação do corpo é um dos objetivos – razão de ser – da igreja:

Os líderes da igreja – apóstolos, profetas, evangelistas e pastore e mestres – cooperam com o Espírito Santo na medida em que ajudam os santos a se aperfeiçoarem para que possam desempenhar bem o seu serviço que é a edificação mútua cuja finalidade é a maturidade do corpo de Cristo.

Não é função dos líderes da igreja desempenhar o papel dos santos – a edificação mútua que visa a maturidade. Cabe os líderes da igreja cooperar com os santos na execução desta tarefa.

O substantivo feminino grego oikodomē refere-se a uma construção e o verbo oikodomein ao ato de construir, construir. No sentido metafórico refere-se àquilo que é edificante. Assim edificação é o ato de quem promove o crescimento de outro na sabedoria cristã, piedade, felicidade, santidade como se o outro fosse um edifício, ou seja, a coisa construída ou edificada. O termo oikodomē é composto e inclui o substantivo masculino oikos (casa) e o substantivo feminino doma (uma construção). Edificar, no sentido literal é construir uma casa, levantar uma casa do alicerce até sua cobertura e acabamento. Por extensão, o verbo oikodomein significa construir, edificar, fortalecer, desenvolver a vida de outra pessoa por meio de atos e palavras de amor e encorajamento. (Dicionários Bíblicos Thayer/Strong/Mounce)

Nesse sentido, cada cristão é visto metaforicamente como um edifício, cuja vida é construída sobre o alicerce que é Cristo.

Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças – Cl 2.6 e 7

Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo – 1Pe 2.4 e 5

Amor, serviço, acolhimento, consolação, exortação, admoestação mútua, ensino etc.

Seja tudo feito para edificação – 1Co 14.26c

 

CONCLUSÃO:

DESVANTAGENS DO DESIGREJAMENTO

  • O “desigrejado” evita a comunidade e cresce deformado como os publicanos e o “filho mais velho”
  • O “desigrejado” não percebe quão importante é “ver-se no outro”.
  • O “desigrejado” não consegue cumprir os imperativos de reciprocidades por isso não tem o amor de Deus aprimorado em si mesmo.
  • O “desigrejado” não serve e não é servido pela comunidade.
  • O “desigrejado” se ilude achando que pode crescer sozinho e perde o privilégio de crescer junto com os demais membros da comunidade.

O DESIGREJAMENTO É UM PRINCÍPIO DE APOSTASIA

Os destinatários da carta aos Hebreus estavam num processo de “desigrejamento”. O autor da carta os adverte:

É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia. Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada – Hb 6.4 a 8

Que Deus nos ajude.

Amém

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