Tempo de semear

Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes – Salmo 126.6

Voltou Jesus a ensinar à beira-mar. E reuniu-se numerosa multidão a ele, de modo que entrou num barco, onde se assentou, afastando-se da praia. E todo o povo estava à beira-mar, na praia. Assim, lhes ensinava muitas coisas por parábolas, no decorrer do seu doutrinamento. Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear – Marcos 4.1 a 3

 

INTRODUÇÃO

Podemos afirmar, com toda certeza, que a vida é uma longa caminhada.

Podemos afirmar também, que a vida é uma semeadura:

“… aquilo que o homem semear, isso também ceifará… – Gálatas 6.7

A Bíblia foi produzida num contexto agropastoril. Os povos bíblicos viviam basicamente da agricultura e da pecuária. Semear era uma ação comum, contínua e bem presente nas culturas dos povos bíblicos.

A Revolução Industrial (século XVIII) produziu uma mudança radical na realidade agropastoril no mundo todo. Antes dela pouca diferença havia entre os dias dos salmistas e de Jesus Cristo.

Na Palestina dos dias de Jesus se cultivava o trigo, a cevada, o painço, um tipo antigo de milho duro, a lentilha, feijão branco, ervilhas e sorgo que era usado para alimentação dos animais. Cultivava-se também leguminosas como cebolas, alho porró, e outros tipos de vegetais como tomate, berinjela, pimentas, pepinos, abóboras e melões. Cultivava-se ainda as hortaliças alface, chicória, escarola, beldroega e salsa.

Na Palestina a densidade pluviométrica é baixa:

As chuvas também estão longe de ser satisfatórias. Não se pode dizer que sejam por completo inadequadas, pois os cálculos mostram que o índice pluviométrico é mais alto do que o de muitas outras regiões mediterrâneas — 16.3 polegadas por ano, e mais de 23 nas montanhas da Galileia; mas quase toda esta chuva cai em poucos dias, quase todos eles em outubro e março, naqueles aguaceiros violentos de que fala o Evangelho,34 tempestades que enchem os ribeiros em poucos minutos e que carregam casas se seus alicerces não forem suficientemente fortes. Em suma, são chuvas que não fazem todo bem que seria de se esperar. Todavia, se não vierem, principalmente as últimas chuvas, as da primavera, isso significa a ruína. (A Vida Diária nos Dias de Jesus, p. 18 e 19)

 

A Bíblia faz menção às chuvas serôdias e às temporãs:

Se andardes nos meus estatutos, guardardes os meus mandamentos e os cumprirdes, então, eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo; e a terra dará a sua messe, e a árvore do campo, o seu fruto – Levítico 26.3 e 4

 

Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhais o vosso grão, e o vosso mosto e o vosso azeite – Deuteronômio 11.14

 

Cantai ao SENHOR com ações de graças; entoai louvores, ao som da harpa, ao nosso Deus, que cobre de nuvens os céus, prepara a chuva para a terra, faz brotar nos montes a erva e dá o alimento aos animais e aos filhos dos corvos, quando clamam – Salmo 147.7 a 9

 

Temamos agora ao Senhor nosso Deus, que dá chuva, a temporã e a serôdia, ao seu tempo; e nos conserva as semanas determinadas da sega – Jeremias 5.24

 

Tanto a chuva serôdia como a temporã eram importantes para os moradores da Palestina:

A chuva temporã que cai no outono, especialmente no final de outubro, prepara o terreno para ser lavrado e semeado. Ela também é responsável por irrigar os campos recém-semeados. Já a chuva serôdia que cai na primavera, principalmente entre março e maio, é fundamental para fazer com que o grão cresça e produza uma boa colheita (Oseias 6.3; Zacarias 10.1). Se na ausência da chuva temporã o solo fica muito prejudicado, sem a chuva serôdia todo o cultivo fica seriamente ameaçado. Além disso, na região da Palestina a chuva serôdia e a chuva temporã são tão importantes porque entre elas há um verão quente e muito seco. (https://estiloadoracao.com/chuva-serodia-e-chuva-tempora-significado)

 

A vida do camponês dos dias de Jesus era muito difícil:

Uma vez bem trabalhado o campo (o que requeria com frequência várias passagens do arado), eles passavam o rasteio (a grade) e então semeavam. Isto se fazia geralmente no mês de Tisri (outubro) ou em alguma outra época durante o inverno, mas havia também colheitas de primavera semeadas em Adar (março). Muitos se contentavam em semear às mancheias, com aquele conhecido “movimento augusto” da mão, mas os mais cuidadosos se curvavam para colocar as sementes nos sulcos, especialmente no caso do trigo, para que não se perdessem entre as pedras e espinhos como diz a parábola. Próximo da Festa da Páscoa, os campos branquejavam para a ceifa, nas palavras de João, e foi em abril que os apóstolos encontraram e comeram espigas de milho. A colheita começava com a cevada e um mês depois vinha a do trigo. (A Vida Diária nos Dias de Jesus, p. 152)

 

  1. O TEMPO DE SEMEAR

O tempo é um fator importante quando o assunto é semear.

O sábio disse:

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: […] tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou – Eclesiastes 3.1 e 2 (editado)

 

Em se falando de semeadura de sementes – no sentido literal – os agrônomos aconselham a quem não tiver um sistema artificial de irrigação que semeie…

Quando o assunto é semear o bem e a Palavra de Deus todo tempo é tempo:

Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás. Reparte com sete e ainda com oito, porque não sabes que mal sobrevirá à terra. Estando as nuvens cheias, derramam aguaceiro sobre a terra; caindo a árvore para o sul ou para o norte, no lugar em que cair, aí ficará. Quem somente observa o vento nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará. Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas. Semeia pela manhã a tua semente e à tarde não repouses a mão, porque não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas – Eclesiastes 11.1 a 6

 

Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus – Efésios 5.15 e 16

 

O tempo oportunidade – kairós – é diferente para cada um de nós.

O sábio ensinou:

Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão – Pv 17.17

 

Quando um amigo vê o outro em angústia percebe aí uma oportunidade para ir além da amizade e formalizar laços de fraternidade.

  1. A SEMENTE

O tipo de semeadura é outro fator importante.

O que semear?

Qual é a qualidade da semente?

Paulo nos fala de um tipo especial de semeadura, a semeadura do bem:

Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna. E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos. Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé – Gálatas 6.7 a 10

 

Esse texto começa com uma advertência e termina com uma promessa.

A advertência é para que não nos deixemos nos enganar. Não devemos achar que seja possível zombar impunemente de Deus. Deus é justo e dará a cada um de nós a colheita correspondente à semeadura que fizermos.

Com isso Paulo está dizendo que é tolice plantar “vento e esperar colher bonança”, espalhar o ódio e colher amor, semear amargura e colher perdão. A colheita é sempre uma consequência da semeadura.

Escolhemos o que semear e não o que colher.

Com base nisso Paulo nos exorta a semear para o Espírito e semear o bem sempre. A promessa decorrente é que no tempo certo iremos ter uma colheita de vida abundante.

O que estamos semeando?

A Bíblia nos exorta a semear:

  1. O bem
  2. A justiça
  3. A paz
  4. O amor
  5. Boas palavras
  6. Gratidão
  7. Harmonia
  • O MODO DE SEMEAR

Como semeamos pode influenciar a colheita. Não devemos semear aleatoriamente.

Toda semeadura é precedida por um plano.

Um semeador de sementes terá o cuidado de sondar primeiro o solo antes de depositar nele sua preciosa semente.

Havia todo um cuidado na escolha do solo que era preparado de antemão para receber a semente. O semeador preparava o campo de pousio – o local onde a semente deveria ser semeada. Figuradamente o profeta Oséias fala de uma semeadura de justiça e alude ao preparo do campo:

Então, eu disse: semeai para vós outros em justiça, ceifai segundo a misericórdia; arai o campo de pousio; porque é tempo de buscar ao SENHOR, até que ele venha, e chova a justiça sobre vós – Oséias 10.12

 

Devemos nos perguntar:

Como posso semear o bem nesse ambiente?

Que tipo de semente vai germinar nesse solo?

O que devo fazer para que a oportunidade surja?

Que ação minha representará uma semeadura nesse local?

  1. ONDE SEMEAR

O local onde depositamos a semente importa, e muito.

A semeadura é uma atividade pensada e bem executada para ser efetiva.

Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se. Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto. Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu, produzindo a trinta, a sessenta e a cem por um – Marcos 4.4 a 8

 

Algumas considerações sobre a parábola:

  1. O semeador é o próprio Senhor Jesus
  2. O campo é o mundo
  3. A semente é a Palavra de Deus
  4. Os quatro tipos de solos são os corações dos que ouvem a Palavra de Deus

Jesus não estava dando uma aula sobre como semear.

Jesus estava dizendo como de fato é a semeadura da Palavra de Deus.

O semeador não escolhe previamente o solo sobre o qual a semente será semeada.

APLICAÇÃO

Alguns fatos a se considerar:

  1. Somos semeadores.
  2. Podemos escolher o que semear, mas não podemos não semear.
  3. Quando se fala em semear o bem e a Palavra de Deus todo tempo é tempo.
  4. Podemos e devemos semear bem o bem.
  5. Podemos e devemos semear o bem onde estivermos.

Uma observação:

Semear tem seu custo:

Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes – Salmo 126.5 e 6

 

O samaritano ilustra bem esse fato:

Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar – Lucas 10.33 a 35

 

CONCLUSÃO

Devemos aceitar que somos semeadores.

Ao semear devemos escolher bem o que semear.

O momento certo de semear é tão importante quanto o modo como semeamos.

Devemos semear boa semente onde estivermos, o tempo todo.

Que Deus nos ajude

Amém

 

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